Por Abdael Ambruster
Antes de nos debruçarmos em como furar a bolha, devemos saber o significado do que seja uma bolha social. Segundo Bianca Dreyer, mestre em Ciências da Comunicação, o efeito bolha ou bolha social, são efeitos de isolamento, causado por nós mesmos, de acordo com as nossas opiniões e posicionamentos. Conforme Elizabeth Saad, professora titular da ECA – USP, essas bolhas podem ocorrer tanto nas redes sociais como para a vida social[1].
Todas as suas opiniões que ficam ali na nuvem da rede, formam em seu redor o conteúdo de informações com a qual você mesmo se identifica e, tal pode ser perigoso, pois como você não sabe o que se passou ao seu redor, poderá cair facilmente nas redes de manipulação.
Mas não é apenas isso, quando você fica na sua bolha, achando que a sua opinião é uma verdade absoluta e que nada pode mudar isso, você mesmo jamais poderá mudar sequer algo ao seu redor nem para a sua própria melhoria enquanto pessoa ou mesmo enquanto profissional.
A sua zona de conforto é a sua bolha. Você não se incomoda, ou acha que não se incomoda, pois quando vai à busca de alguma informação justamente na sua bolha, por conta que algo não saiu conforme planejado, você está tentando buscar uma solução. Contudo, na maioria das vezes essa solução não vai estar na bolha, pois ela mesma proporcionou que você estivesse nesta situação.
Como o policial penal ou mesmo o servidor público do sistema penitenciário pode buscar soluções para o interesse próprio ou coletivo? Eis uma pergunta que também vai ao encontro à resposta de que, dentro do coletivo de profissionais, uma grande maioria estará imersa dentro da própria bolha.
Os grupos de WhatsApp do sistema penitenciário, formados para compartilhar as dores, anseios e as angústias da profissão, são uma forma de isolamento dentro desta bolha, eles reproduzem o mesmo ambiente profissional dentro dos presídios.
No entanto precisamos lembrar que o policial penal nasceu sem voz durante a sua origem no Brasil, fato este que foi abordado na minha coluna anterior, Consciência de Classe. As cadeias eram edificadas no subterrâneo do passo municipal, prédio este que situava o governo municipal, e o cidadão escolhido como carcereiro não tinha direito a opinar a respeito desta escolha, ou ia trabalhar na prisão ou, caso negasse, iria ficar recolhido dentro da própria prisão.
A bolha prisão parece perseguir essa nobre profissão onde quer que vá, e por isso os grupos de WhatsApp acabaram sendo escolhidos como um local onde possam compartilhar as dores, pesares, angústias, frustrações, raivas, alegrias e debates sobre as condições de trabalho.
Ainda assim, apesar de poder compartilhar suas narrativas um com o outro, essas narrativas não encontram sonoridade fora da bolha e, mais uma vez, vamos ao início da criação da profissão lá no Brasil Império: a voz que não é ouvida.
Vamos novamente ao inicio de tudo nesta coluna. Como furar a bolha? Temos que sair da zona de conforto.
Pode parecer cruel dizer que o policial penal ou servidor penitenciário, que está trabalhando em um ambiente sobrecarregado de estresse, desvalorização profissional dos consecutivos governos do PSDB de São Paulo, está em uma zona de conforto.
Mas o que é na verdade uma Zona de Conforto[2]:
“A zona de conforto refere-se a uma série de pensamentos e comportamentos que não provocam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Uma pessoa que está na zona de conforto realiza apenas as coisas que trazem resultados satisfatórios, se limitando à uma falsa sensação de segurança que impede a superação e a evolução”.
“Com o passar do tempo, a tendência é que esta zona se torne tão familiar que o indivíduo não consegue perceber que está inerte. A preguiça, a soberba, o medo e a cegueira são alguns dos principais motivos que empurram a pessoa para a zona de conforto”.
Tenho certeza que ao ler essa definição, muitos despertarão para as necessidades não apenas pessoais, mas da coletividade. Desta forma, como podemos ter a noção de como a sociedade nos enxerga? Será que ela nos enxerga conforme nós mesmos nos enxergamos? Quais são as evoluções do aspecto social que devemos observar para que finalmente possamos nos incomodar ao mínimo para com a nossa posição? Enfim, “cumprir as doze”, ou fechar o expediente diário e ir pra casa pra manter a mesma situação, nos leva novamente a zona de conforto.
Temos dois aspectos a serem abordados: zona de conforto e bolha social, sendo que, ao permanecermos na zona de conforto, não teremos a pró atividade necessária para furar a bolha social.
A partir do momento em que o individuo começa a questionar o ambiente em que está inserido, ele também começa a questionar a sua relação com esse ambiente.
O policial penal pertence à categoria com a menor expectativa de vida dentre as carreiras policiais. Para que vocês possam ter uma ideia, segundo a FGV, a media de vida de um policial rodoviário federal é de 56 anos[3], já um policial militar, segundo um dos representantes desta categoria, Major Mecca, a expectativa de vida é de 66[4] anos.
A expectativa de vida de um policial penal é de 45[5] anos, dado os dissabores de uma atividade altamente estressante, perigosa e insalubre, a menor expectativa de vida entre as carreiras policiais.
Esse fato, menor expectativa de vida, apontado junto a este artigo é um exemplo que serve como provocação, para que possamos juntos desenvolver a inquietude, ou seja, sair da zona de conforto. Mas para isso, tivemos que sair da bolha social. Três sites foram consultados, nenhum tem relação um com o outro, a maioria dos profissionais de segurança costumam apenas consultar sites com as narrativas com a qual se identificam, ou seja, segurança.
Desta forma, teriam apenas a informação que policiais militares têm uma expectativa de vida em torno de 66 anos e, por se identificar como carreira policial, não tomariam noção de que a sua própria expectativa de vida é ainda menor do que a do policial militar. Tal constatação só foi possível ao mensurar dados de diferentes sites que têm uma característica acadêmica.
Disso o profissional pode avaliar que temos uma carreira policial com características próprias. As consequências desta constatação por alguns colegas de serviço podem ser as mais variáveis possíveis, desde o interesse de mudar seu próprio ambiente de trabalho junto à unidade, a dedicação junto à causa sindical, a dedicação a estudos acadêmicos para pesquisar melhorias das condições de trabalho como até o engajamento político junto a um partido ou coletivo de luta que realmente arregace as mangas e vá à luta, até porque fazer ativismo de sofá sem sair do sofá não é sair da zona de conforto.
Sair da zona de conforto significa quebrar paradigmas há muito estagnados, furar a bolha significa buscar a relações extra muro. A categoria precisa com urgência sair dos muros dos presídios e ganhar a sociedade, com ideias e propostas que dignifiquem a carreira, e que melhorem a qualidade de vida no sistema prisional.
Melhorar as condições de trabalho também significa melhorar as condições de vida dos detentos nos presídios, haja vista, caro operador da lei, perante a ONU, segundo o Manual de Direitos Humanos e Aplicação da Lei para Forças Policiais, elaborado pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da Liga das Nações Unidas em Genebra, você está na vanguarda da defesa em prol dos direitos universais da pessoa humana, você, policial, é um guardião.
Ao furar essa bolha, você tem todo o apoio não só de uma sociedade ávida por mudanças, mas de toda uma categoria policial e do próprio Alto Comissariado de Direitos Humanos da Liga das Nações Unidas. Tenha certeza, não é pouca coisa.
Eis o desafio.
Abdael Ambruster é Policial Penal, especialista em Criminalística e Segurança Pública e Direitos Humanos, diretor sindical da Penitenciária Feminina de Santana.
[1] O que é Bolha Social? Faculdade Cásper Líbero - https://www.youtube.com/watch?v=AihV89Wr-qI
[2] https://www.ibccoaching.com.br/portal/como-sair-da-zona-de-conforto/
[3] https://sinprfmg.org.br/noticia/diretores-do-sinprf-mg-e-do
[4] https://www.majormecca.com.br/policiais-militares-possuem-privilegios-e-mordomias/
[5] https://ibccrim.jusbrasil.com.br/noticias/2518977/expectativa-de-vida-de-agente-penitenciario-e-de-45-anos-em-sp#:~:text=Expectativa%20de%20vida%20de%20agente%20penitenci%C3%A1rio%20%C3%A9%20de%2045%20anos%20em%20SP,-0
O SIFUSPESP comunica o falecimento do policial penal Celso Luiz Prado, do Centro de Detenção Provisória de Americana, que morreu nesta segunda-feira (20) devido ao contágio por coronavírus.
Trabalhador do turno do CDP, Prado deixa esposa e filhos. É o 23º servidor do sistema prisional que lamentavelmente perde a vida para a COVID-19, o segundo no mesmo CDP.
A direção do sindicato está à disposição para prestar todo apoio necessário neste momento, e expressa condolências e profundo pesar à família do policial penal.
Com pesar profundo, o SIFUSPESP comunica o falecimento do policial penal aposentado Pedro Nascimento, que morreu neste domingo (19) vítima de câncer.
Aposentado há poucos anos, foi servidor do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Santo André, no ABC paulista.
O féretro está desde às 11h30 no Velório Jardim Avelino (R. Caetano Pimentel do Vabo, 74 - Jardim Avelino - São Paulo/SP), de onde sairá para sepultamento às 13h30 no Cemitério da Vila Alpina, situado na Av. Francisco Falconi nº 837, na Vila Alpina, zona leste da capital paulista.
A direção do SIFUSPESP está à disposição para prestar todo apoio necessário neste momento, e expressa profundo pesar e condolências aos familiares de Nascimento.
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