Luiz Flavio Gomes

Jurista e comentarista do Jornal da Cultura
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Vou tentar não me emocionar, falar o mais tranquilo possível. Arigato, arigato, arigato. Eu fiz tudo o que pude. Lutei, lutei, infelizmente acabou. Tinha muitos projetos para fazer. Iria contribuir bastante. Muita coisa foi feita. Tudo o que eu podia eu fiz. Dizer que eu adoro todo mundo. Claro, tem pessoas que é mais fácil fazer um agradecimento especial, evidentemente que tem, mas diante da impossibilidade de estar abraçando todo mundo, ao menos gravo uma mensagem genérica e que caiba para todos. Nesse sentido estou trabalhando nessas últimas horas. Vamos em paz, sossego, tranquilidade. Tem muita gente por vir, gente por nascer, mas, em suma, fazer o que? Né? Toquem a vida. Eu dei o pontapé inicial e agora tocar a vida é o dia a dia.


Minha vida não foi de todo triste. A vida que nós tivemos não foi uma vida também de se jogar fora. Ah....fez tudo errado... [ironia]. Nós procuramos fazer tudo certo, dentro das limitações e das circunstâncias. Nós somos nós e as nossas circunstâncias. Isso provou Ortega y Gasset. Portanto em cada momento a vida nos apresenta circunstâncias bem diferentes.


Aí sim eu coloco a carteira e todas as honras do cargo, porque foi muito difícil conquistá-lo. Então agradecer todo mundo – eleitores, grandes companheiros. Eu estou o mais grato possível. Eu fiz de tudo para superar. Infelizmente não foi possível. Mas, assim é a vida!


Se um lado eu não me despeço de todos os amigos com os mais alegres compositores; de outro lado, também não fico só ouvindo Schopenhauer... é muito triste Schopenhauer... Meio termo, meio termo, como sempre quis pautar a minha vida.

Luiz Flávio Gomes, 31 de março de 2020 - terça-feira, 13h45.

1. A reforma da previdência é necessária, mas não podemos concordar com seus pontos extremamente desumanos e inconstitucionais (a redução do BPC recebido pelos velhinhos miseráveis, por exemplo, é de uma atrocidade cruel insuperável).

2. Também temos que analisar com muito cuidado declarações que não mostram bases empíricas que as sustentem. Veja isto: reforma da previdência pode gerar 4,3 milhões de empregos em quatro anos; isso é o que prevê o governo (https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/post/2019/04/15/reforma-da-previdencia-pode-gerar-43-milhoes-de-empregos-em-quatro-anos.ghtml).

3. Será que os brasileiros vão acreditar neste discurso de Marco Antônio Cavalcanti, subsecretário de Política Fiscal da Secretaria de Política Econômica do governo?

4. Em 30/10/2017, Henrique Meirelles disse o seguinte: “Nova lei trabalhista deve gerar mais de 6 milhões de empregos”. Desde essa data, o desemprego só aumentou ou ficou estável (hoje girando em torno de 13 milhões de pessoas, mais 5 milhões que já não procuram emprego).

5. O Brexit foi aprovado com a promessa de mais empregos, mais impostos, mais prosperidade. O Reino Unido perdeu 6,6 bilhões de libras em atividade econômica a cada trimestre desde que votou a favor de deixar a União Europeia, segundo a S&P Global Ratings, a mais recente instituição financeira a estimar os prejuízos do Brexit (Extra, 4/4/19).

6. Diziam que com o pagamento de bagagem extra o preço das passagens iria diminuir. Isso não ocorreu.

7. Diziam que a limitação dos gastos públicos (necessária) iria reduzir a dívida do País assim como os juros. Nada disso ocorreu.

Discursar em favor de uma ideia é uma coisa, mostrar resultado positivo efetivo é outra.

➡ Leia o artigo no site: https://www.professorluizflaviogomes.com.br/reforma-da-previdencia-pode-gerar-43-milhoes-de-empregos-sera/

LUIZ FLÁVIO GOMES, professor, jurista e Deputado Federal Contra a Corrupção.

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e criador do movimento Quero Um Brasil Ético. Está no f/luizflaviogomesoficial

Em todos os países de corrupção sistêmica (o Brasil ocupa a posição 96 no ranking da Transparência Internacional) é muito elevado o índice de desigualdade. A corrupção, nesses países, não se deve apenas às patologias humanas decorrentes da falta de ética, senão, sobretudo, às desigualdades (econômicas, sociais, estruturais, psicológicas, educacionais, de oportunidades etc.).

O Brasil é um país exageradamente corrupto porque é vergonhosamente desigual.

Vamos recordar: somos o 10º país mais desigual do mundo, de acordo com o índice Gini (que mede esse desequilíbrio). É o 4º país mais desigual da América Latina, só perdendo para Haiti, Colômbia e Paraguai. Embora seja a 7ª economia do planeta, possui um indecente Índice de Desenvolvimento Humano (posição 79, em 188 países pesquisados).

Em nenhum outro país há tanta concentração de renda: o 1% mais rico detém 30% da renda total (ver Pesquisa da desigualdade Mundial de 2018). Nem o Oriente Médio nem os EUA têm tanta concentração de renda.

A cruel desigualdade brasileira no século XXI é continuação do sistema feudal da Idade Média. Entre nós existem 450 empresas (ver Bruno Carazza, Dinheiro, eleições e poder) e umas 20 famílias que se comportam como senhores feudais, que compraram os mandatos (via financiamento de campanha) de uns 300 políticos superinfluentes entre 1994 e 2014.

Políticos com mandatos comprados cumprem o papel de vassalos dos senhores feudais, protegendo seus interesses materiais no âmbito do Executivo e do Legislativo (por meio de leis de isenções fiscais, dinheiro público barato, contratos públicos sem licitação lícita, contratos superfaturados, desonerações e renúncias fiscais etc.).

Tal qual na Idade Média (século V ao XV), os senhores feudais (verdadeiros donos do Brasil) possuem muito poder econômico e político. Mas não estariam no comando da nação há 518 anos se não contassem com incontáveis aparatos de proteção que vão além da vassalagem política (que é comprada).

A influência desses senhores feudais alcança também a vassalagem de setores do judiciário, da alta burocracia estatal, do mundo militarizado, da grande mídia, da intelectualidade vendida e da religião. Sem aparatos protetivos os senhores feudais desapareceriam.



As desgraças geradas pelo feudalismo corrupto não se limitam à indignação que nos gera o dinheiro roubado (que já é absolutamente intolerável). É que esse dinheiro faz muita falta para a educação, saúde, segurança, Justiça, transportes e infraestrutura. O bem comum sucumbe diante dos deploráveis interesses privados, que menosprezam desde logo a ética.

O pior é que daí nasce um tipo de cultura política de desapreço pela democracia. Da apatia democrática fundada na descrença frente às instituições decorre não apenas a recusa do eleitor de participar validamente das eleições (os votos brancos, nulos e a abstenção continuam em alta) como um tipo de revolta que está levando várias partes do continente a ditaduras eleitas pelo povo.

Por causa do feudalismo corrupto protagonizado pelos senhores feudais donos do país o Brasil se acha imerso em um círculo vicioso altamente destrutivo da sociedade brasileira. Doenças que já tinham desaparecido estão retornando (sarampo, poliomielite etc.).

Tudo deriva da falta de confiança entre as pessoas assim como nas instituições. A falta de confiança favorece muito a difusão da corrupção sistêmica. Esta, por sua vez, amplia a falta de confiança nas instituições. É um círculo vicioso mortal. Nossa sociedade está sendo destruída pelos donos corruptos do poder.

Uma plutocracia (poder dos endinheirados) gananciosa, egoísta e corrupta converteu o Brasil numa cleptocracia que é continuidade do feudalismo da Idade Média.

Cleptocracia significa governos de ladrões que se sucedem, sem resolver nossos problemas básicos de escolarização, saúde, transportes, segurança e Justiça.

Enquanto não atacarmos com dureza essas doenças do Brasil, fazendo o ladrão devolver o roubado e pagar pelo que fez de errado, vão se agravando os seus efeitos maléficos assim como o sofrimento da população. Até quando o brasileiro vai suportar os desmandos e caprichos dos senhores feudais donos da Nação?



Luís Flávio Gomes, jurista e comentarista do Jornal da Cultura.

 

  1. Individualmente todos nos achamos os melhores motoristas do mundo. Coletivamente somos uma carnificina no volante (mais de 40 mil mortes por ano, no trânsito). Individualmente não nos consideramos racistas. Coletivamente sabe-se que o racismo está impregnado profundamente na alma do brasileiro.

 

  1. Individualmente estamos todos indignados com a corrupção (com o clube dos ladrões e aproveitadores da Nação que sempre nos governou). Coletivamente quase nunca protestamos contra os donos corruptos do poder. Quando isso ocorre, são protestos seletivos.

 

  1. Há um fosso, na verdade, um hiato imenso entre nossos sentimentos e pensamentos individuais e aquilo que somos coletivamente. Cada um de nós, como sublinha Eduardo Giannetti (O paradoxo do brasileiro, em O elogio do vira-lata), crê sinceramente que somos mais do que tudo isso que está aí. Coletivamente somos exatamente tudo isso que está aí.

 

  1. Até no futebol a distância entre o individual e o coletivo é impressionante. Individualmente a seleção brasileira sempre é tida como insuperável. Coletivamente, por falta de equilíbrio emocional ou outro motivo, o resultado tem sido um desastre (pelo menos nas últimas duas copas do mundo, com certeza).

 

  1. A soma das partes fica sempre muito aquém do todo que efetivamente somos. Onde está o problema? A autoimagem que fazemos de nós mesmos nunca corresponde à realidade que vivenciamos. Isso se chama autoengano (E. Giannetti).

 

  1. Cada parlamentar se considera autossuficiente. A soma deles é uma catástrofe para as contas públicas (vivem aprovando gastos públicos, irresponsavelmente, sempre em benefício dos seus patrocinadores). Pesquisa Datafolha revelou que 65% dos brasileiros se julgam felizes. Paradoxalmente, apenas 23% acham que o povo brasileiro é feliz.

 

  1. De tropeço em tropeço coletivo (estamos mal na educação, na saúde, nos transportes, na inovação, na revolução tecnológica, nos esportes, na competitividade etc.) vamos liquidando a autoestima do brasileiro, que anda muito irado, revoltado. Esquecemos que a devastação da alma cria monstros. “Quando a moral decai, surgem aqueles a quem denominamos tiranos” (Nietzsche).

 

  1. Perdemos a ideia do destino comum, do bem comum (ou seja, da República, que significa cuidar da coisa pública, da coisa comum). Nossas desavenças coletivas estão marcadas pelo ódio, que é fonte de desagregação, degeneração. Nem a experiência trágica do caos e do colapso (o caso do Rio de Janeiro é emblemático) está nos unindo. Os caminhoneiros, nesse contexto, são rara exceção.

 

  1. Os larápios corruptos e aproveitadores (umas 450 empresas nacionais e multinacionais, além de cerca de 30 famílias) creem que seus atos isolados não chegam a destruir a Nação. Não computam o efeito coletivo ou cumulativo dos seus desmandos. Não querem perceber que a soma de muitos vícios privados gera inapelavelmente calamidades públicas colossais.

 

  1. Os donos corruptos e aproveitadores do poder que, com suas bandidagens, estão levando o Brasil para o abismo, não percebem que seus péssimos exemplos se propagam na comunidade como erva daninha, criando a convicção geral (desavergonhada) de que todos devemos nos locupletar (ou nos moralizamos ou nos locupletamos todos!).

 

  1. A 6ª República (1985 até o presente) vive sua agonia final. O Brasil está grávido. Algo será parido. Que o rebento não seja um novo monstrengo autoritário aliado ao clube dos ladrões e aproveitadores da Nação brasileira.