Webinário “Sistema prisional e COVID-19: Impactos sobre um cenário de crise permanente” terá transmissão ao vivo pelas redes sociais nesta terça-feira (21), a partir das 17h
por Giovanni Giocondo
O Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (SIFUSPESP) e o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) promovem nesta terça-feira (21), a partir das 17h, um debate ao vivo para tratar dos impactos do coronavírus no sistema prisional. A transmissão do webinário acontece através deste link, via aplicativo Zoom, no Facebook do sindicato e também no canal do NEV no Youtube.
Diante dos riscos de uma crise permanente que se já está instalada, e que pode piorar frente à superlotação e ao ambiente insalubre das prisões a partir da pandemia da COVID-19, trabalhadores e pesquisadores pretendem abordar a endemia de problemas que atingem o sistema e propor caminhos para a superação desse panorama caótico que afeta servidores, detentos, seus familiares e toda a sociedade brasileira.
Sistema prisional e COVID-19: Impactos sobre um cenário de crise permanente vai reunir o presidente do SIFUSPESP, Fábio Jabá; o professor Sérgio Adorno, coordenador do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID/NEV), além da professora Camila Dias, da Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisadora associada ao NEV. O debate será mediado por Giane Silvestre, pesquisadora de pós-doutorado do NEV.
Para o presidente do SIFUSPESP, Fábio Jabá, ampliar o alcance do debate sobre o sistema para fora das grades pode melhorar o entendimento dos servidores a respeito do seu próprio cotidiano, por criar “novas perspectivas vindas de estudiosos que há décadas se debruçam sobre o universo da violência tão presente nas prisões”.
Na opinião do sindicalista, os trabalhos do NEV/USP “dialogam com o olhar que o sindicato possui, de tornar o ambiente prisional mais sustentável e digno, sobretudo em um momento tão difícil que se atravessa com a crise do coronavírus”, e por esse motivo representam parte dos anseios da categoria em se buscar um espaço de trabalho menos propenso aos danos que décadas de falta de estrutura podem causar em meio a uma pandemia tão grave e de proporções ainda inimagináveis dentro dos muros.
Já a Drª Camila Dias espera que o webinário seja uma ponte para estabelecer e aprofundar um diálogo entre o NEV e os servidores do sistema carcerário, e refletir sobre melhores condições de trabalho e, em consequência, de condições mais humanizadas nas prisões para todos.
“Articular o conhecimento acadêmico com o conhecimento e a experiência profissionais é essencial para a construção de políticas, propostas e caminhos que permitam reduzir as graves violações de direitos humanos que envolvem a população carcerária e também os servidores do sistema prisional. Desta forma, estamos confiantes que este será um espaço importante para ouvir os servidores do sistema carcerário e pensar em formas através das quais a universidade pode ser parceira nessa reflexão”, pondera a pesquisadora.
Acompanhe ao vivo e participe mandando perguntas. Sistema prisional e os impactos da Covid-19. É nesta terça-feira, às 17h.
Com pesar, a direção do SIFUSPESP informa o falecimento de Eunice Duenhas, auxiliar de enfermagem da Penitenciária II de Lavínia.
Residente em Mirandópolis, Eunice tinha 64 anos e morreu em decorrência de um infarto, deixando esposo e filhos.
O velório ocorre a partir das 13h no Cemitério Municipal de Mirandópolis, onde ocorre o sepultamento às 17h.
A direção do sindicato expressa condolências e profundo pesar, e está à disposição dos familiares para prestar apoio em tudo o que for necessário neste momento.
Por Abdael Ambruster
Antes de nos debruçarmos em como furar a bolha, devemos saber o significado do que seja uma bolha social. Segundo Bianca Dreyer, mestre em Ciências da Comunicação, o efeito bolha ou bolha social, são efeitos de isolamento, causado por nós mesmos, de acordo com as nossas opiniões e posicionamentos. Conforme Elizabeth Saad, professora titular da ECA – USP, essas bolhas podem ocorrer tanto nas redes sociais como para a vida social[1].
Todas as suas opiniões que ficam ali na nuvem da rede, formam em seu redor o conteúdo de informações com a qual você mesmo se identifica e, tal pode ser perigoso, pois como você não sabe o que se passou ao seu redor, poderá cair facilmente nas redes de manipulação.
Mas não é apenas isso, quando você fica na sua bolha, achando que a sua opinião é uma verdade absoluta e que nada pode mudar isso, você mesmo jamais poderá mudar sequer algo ao seu redor nem para a sua própria melhoria enquanto pessoa ou mesmo enquanto profissional.
A sua zona de conforto é a sua bolha. Você não se incomoda, ou acha que não se incomoda, pois quando vai à busca de alguma informação justamente na sua bolha, por conta que algo não saiu conforme planejado, você está tentando buscar uma solução. Contudo, na maioria das vezes essa solução não vai estar na bolha, pois ela mesma proporcionou que você estivesse nesta situação.
Como o policial penal ou mesmo o servidor público do sistema penitenciário pode buscar soluções para o interesse próprio ou coletivo? Eis uma pergunta que também vai ao encontro à resposta de que, dentro do coletivo de profissionais, uma grande maioria estará imersa dentro da própria bolha.
Os grupos de WhatsApp do sistema penitenciário, formados para compartilhar as dores, anseios e as angústias da profissão, são uma forma de isolamento dentro desta bolha, eles reproduzem o mesmo ambiente profissional dentro dos presídios.
No entanto precisamos lembrar que o policial penal nasceu sem voz durante a sua origem no Brasil, fato este que foi abordado na minha coluna anterior, Consciência de Classe. As cadeias eram edificadas no subterrâneo do passo municipal, prédio este que situava o governo municipal, e o cidadão escolhido como carcereiro não tinha direito a opinar a respeito desta escolha, ou ia trabalhar na prisão ou, caso negasse, iria ficar recolhido dentro da própria prisão.
A bolha prisão parece perseguir essa nobre profissão onde quer que vá, e por isso os grupos de WhatsApp acabaram sendo escolhidos como um local onde possam compartilhar as dores, pesares, angústias, frustrações, raivas, alegrias e debates sobre as condições de trabalho.
Ainda assim, apesar de poder compartilhar suas narrativas um com o outro, essas narrativas não encontram sonoridade fora da bolha e, mais uma vez, vamos ao início da criação da profissão lá no Brasil Império: a voz que não é ouvida.
Vamos novamente ao inicio de tudo nesta coluna. Como furar a bolha? Temos que sair da zona de conforto.
Pode parecer cruel dizer que o policial penal ou servidor penitenciário, que está trabalhando em um ambiente sobrecarregado de estresse, desvalorização profissional dos consecutivos governos do PSDB de São Paulo, está em uma zona de conforto.
Mas o que é na verdade uma Zona de Conforto[2]:
“A zona de conforto refere-se a uma série de pensamentos e comportamentos que não provocam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Uma pessoa que está na zona de conforto realiza apenas as coisas que trazem resultados satisfatórios, se limitando à uma falsa sensação de segurança que impede a superação e a evolução”.
“Com o passar do tempo, a tendência é que esta zona se torne tão familiar que o indivíduo não consegue perceber que está inerte. A preguiça, a soberba, o medo e a cegueira são alguns dos principais motivos que empurram a pessoa para a zona de conforto”.
Tenho certeza que ao ler essa definição, muitos despertarão para as necessidades não apenas pessoais, mas da coletividade. Desta forma, como podemos ter a noção de como a sociedade nos enxerga? Será que ela nos enxerga conforme nós mesmos nos enxergamos? Quais são as evoluções do aspecto social que devemos observar para que finalmente possamos nos incomodar ao mínimo para com a nossa posição? Enfim, “cumprir as doze”, ou fechar o expediente diário e ir pra casa pra manter a mesma situação, nos leva novamente a zona de conforto.
Temos dois aspectos a serem abordados: zona de conforto e bolha social, sendo que, ao permanecermos na zona de conforto, não teremos a pró atividade necessária para furar a bolha social.
A partir do momento em que o individuo começa a questionar o ambiente em que está inserido, ele também começa a questionar a sua relação com esse ambiente.
O policial penal pertence à categoria com a menor expectativa de vida dentre as carreiras policiais. Para que vocês possam ter uma ideia, segundo a FGV, a media de vida de um policial rodoviário federal é de 56 anos[3], já um policial militar, segundo um dos representantes desta categoria, Major Mecca, a expectativa de vida é de 66[4] anos.
A expectativa de vida de um policial penal é de 45[5] anos, dado os dissabores de uma atividade altamente estressante, perigosa e insalubre, a menor expectativa de vida entre as carreiras policiais.
Esse fato, menor expectativa de vida, apontado junto a este artigo é um exemplo que serve como provocação, para que possamos juntos desenvolver a inquietude, ou seja, sair da zona de conforto. Mas para isso, tivemos que sair da bolha social. Três sites foram consultados, nenhum tem relação um com o outro, a maioria dos profissionais de segurança costumam apenas consultar sites com as narrativas com a qual se identificam, ou seja, segurança.
Desta forma, teriam apenas a informação que policiais militares têm uma expectativa de vida em torno de 66 anos e, por se identificar como carreira policial, não tomariam noção de que a sua própria expectativa de vida é ainda menor do que a do policial militar. Tal constatação só foi possível ao mensurar dados de diferentes sites que têm uma característica acadêmica.
Disso o profissional pode avaliar que temos uma carreira policial com características próprias. As consequências desta constatação por alguns colegas de serviço podem ser as mais variáveis possíveis, desde o interesse de mudar seu próprio ambiente de trabalho junto à unidade, a dedicação junto à causa sindical, a dedicação a estudos acadêmicos para pesquisar melhorias das condições de trabalho como até o engajamento político junto a um partido ou coletivo de luta que realmente arregace as mangas e vá à luta, até porque fazer ativismo de sofá sem sair do sofá não é sair da zona de conforto.
Sair da zona de conforto significa quebrar paradigmas há muito estagnados, furar a bolha significa buscar a relações extra muro. A categoria precisa com urgência sair dos muros dos presídios e ganhar a sociedade, com ideias e propostas que dignifiquem a carreira, e que melhorem a qualidade de vida no sistema prisional.
Melhorar as condições de trabalho também significa melhorar as condições de vida dos detentos nos presídios, haja vista, caro operador da lei, perante a ONU, segundo o Manual de Direitos Humanos e Aplicação da Lei para Forças Policiais, elaborado pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da Liga das Nações Unidas em Genebra, você está na vanguarda da defesa em prol dos direitos universais da pessoa humana, você, policial, é um guardião.
Ao furar essa bolha, você tem todo o apoio não só de uma sociedade ávida por mudanças, mas de toda uma categoria policial e do próprio Alto Comissariado de Direitos Humanos da Liga das Nações Unidas. Tenha certeza, não é pouca coisa.
Eis o desafio.
Abdael Ambruster é Policial Penal, especialista em Criminalística e Segurança Pública e Direitos Humanos, diretor sindical da Penitenciária Feminina de Santana.
[1] O que é Bolha Social? Faculdade Cásper Líbero - https://www.youtube.com/watch?v=AihV89Wr-qI
[2] https://www.ibccoaching.com.br/portal/como-sair-da-zona-de-conforto/
[3] https://sinprfmg.org.br/noticia/diretores-do-sinprf-mg-e-do
[4] https://www.majormecca.com.br/policiais-militares-possuem-privilegios-e-mordomias/
[5] https://ibccrim.jusbrasil.com.br/noticias/2518977/expectativa-de-vida-de-agente-penitenciario-e-de-45-anos-em-sp#:~:text=Expectativa%20de%20vida%20de%20agente%20penitenci%C3%A1rio%20%C3%A9%20de%2045%20anos%20em%20SP,-0
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