Paulo Preto pagou R$740 mil a 37 suspeitos de ligação com a facção criminosa, que teriam cobrado propina para permitir que funcionários da estatal trabalhassem em bairros de São Paulo e Barueri
por Giovanni Giocondo
Investigação conduzida pelo Ministério Público Estadual (MP-SP) atesta que Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ordenou o pagamento de R$ 740 mil em propinas a membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) quando era diretor da Desenvolvimento Rodoviário S.A(Dersa), entre 2007 e 2010, no governo de José Serra (PSDB). Paulo Preto está preso e foi condenado pela Justiça Federal em São Paulo a 145 anos de prisão. Ele é apontado como operador do mensalão tucano.
De acordo com reportagem do portal Uol publicada nesta quarta-feira (19) com base nos documentos e depoimentos disponibilizados pelo MP-SP, que investiga o caso desde 2014, o dinheiro teria sido repassado a 37 membros da facção criminosa como forma de permitir que operários trabalhassem livremente em obras do trecho sul do Rodoanel e do prolongamento da avenida Jacu-Pêssego, feitas em bairros dominados pelo PCC - Jardim São Francisco e Jardim Oratório, na capital; e Vila Iracema, em Barueri.
Ainda conforme a reportagem, a propina teria sido transformada em indenizações irregulares pagas pela demolição de casas que estariam no traçado das obras do governo do Estado. A denúncia partiu de dois ex-funcionários de Paulo Preto - José Geraldo Casas Vilela, que deu depoimento ao MP-SP em 2016, e Mércia Ferreira Gomes, que deu detalhes sobre ameaças sofridas pela equipe da estatal na época para fornecer o dinheiro aos criminosos.
“De acordo com a delatora, criminosos armados ou seus representantes compareciam à sede da Dersa, no Itaim, em São Paulo, para receber as indenizações. O dinheiro vivo era acondicionado em caixas e mochilas. A maioria dos beneficiados não assinava os recibos comprovando o pagamento do dinheiro, segundo a delatora. Em uma das ameaças que recebeu, afirmou que um desconhecido ligou e disse que ela não perdia por esperar, pois iria conhecer as mulheres do PCC na cadeia”. Veja a reportagem completa: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/06/19/mp-paulo-preto-deu-r-740-mil-a-grupo-ligado-ao-pcc-por-obra-no-rodoanel.htm
Mércia também acusou Hamilton Clemente Alves, ex-assessor do ex-deputado Adriano Diogo (PT), de intermediar o contato entre os criminosos e Paulo Preto. Diogo negou que o suspeito fosse seu assessor na época e também disse nunca ter participado de qualquer caso espúrio. O petista disse que o operador do mensalão do PSDB derrubou mais de 4 mil casas em poucos meses sem processo de desapropriação. “Era aquela bagunça, tudo invasão, aí ele combinava no gogó as indenizações e as pessoas iam lá receber”, disse à reportagem.
Propina de Paulo Preto para o PCC já tinha sido denunciada pela Justiça suíça
Em 22 de fevereiro deste ano, o SIFUSPESP havia repercutido os desdobramentos da terceira prisão do operador do PSDB, na esteira da Operação Lava-Jato, sob acusação de ter participado de operações de lavagem de dinheiro da empreiteira Odebrecht que somaram, segundo a Polícia Federal, R$ 132 milhões. Em clara ameaça a cardeais tucanos, Paulo Preto disse na ocasião que o dinheiro “não era só dele”. Confira no link: https://www.sifuspesp.org.br/noticias/6434-operador-financeiro-do-psdb-e-acusado-de-pagar-comissoes-ocultas-ao-pcc
Os valores teriam saído de quatro contas em nome da offshore Groupe Nantes, controlada pelo engenheiro e identificadas pelos órgãos de fiscalização do país europeu após um pedido de cooperação internacional feito pelo Ministério Público Federal no processo que investiga desvios de verbas de obras do Rodoanel, empreendimento tocado pela Dersa e que teve a Odebrecht como concorrente.
Pouco mais de um mês antes, em 19 de fevereiro, o operador do mensalão tucano havia sido acusado de ter pago propinas ao PCC pela Procuradoria de Justiça da Suíça, que por sua vez, em agosto de 2017, encaminhou comunicado oficial sobre a acusação à Justiça brasileira, sem no entanto esclarecer como teriam sido feitos esses pagamentos - informação que agora vem à tona com a revelação do Ministério Público paulista.
A reportagem do Uol desta quarta-feira também afirma que MP-SP chegou a apresentar denúncia sobre as irregularidades na Justiça criminal, mas a apuração foi repassada em março de 2017 para o Ministério Público Federal e à Justiça Federal em São Paulo, sendo conduzidas pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, que não aprofundou a investigação sobre a suspeita de propinas pagas aos membros do PCC.
Dos 37 homens acusados de receber a propina de Paulo Preto, 13 já estiveram detidos sob acusação de homicídio, tráfico de drogas e roubo, enquanto um recebeu a indenização de cerca de R$20 mil - valor pago por cabeça - quando ainda estava preso, e outro quando era considerado foragido pela Justiça.
O temor dos trabalhadores penitenciários é que a série de acusações graves contra nomes fortes do PSDB envolvidos em operações ilegais com dinheiro público e sua ligação com o PCC possa reforçar as teses de que o crime organizado possui controle sobre políticos tucanos e que o futuro do sistema prisional seja insustentável caso a facção assuma o comando das unidades a partir do processo de concessão das penitenciárias a empresas.