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Nesta segunda parte da matéria - veja a primeira no link  http://www.sifuspesp.org.br/noticias/5005-agente-de-seguranca-penitenciaria-com-muito-orgulho - , a agente penitenciária Lívia Barreiro da Silva, membro do GOC Grupo de Operações Carcerárias, especializada pela Cruz Vermelha Brasileira, credenciada na Polícia Federal nas disciplinas de radiocomunicação, vigilância, prevenção e combate a incêndio, primeiros socorros, gerenciamento de crises, relações humanas no trabalho, noções de criminalística e técnicas de entrevista, sistema de segurança pública e crime organizado, nos brinda com uma entrevista acerca de sua visão sobre o Sistema Penitenciário e a oportunidade que a Polícia Penal nos apresenta de modernizá-lo.

 

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SIFUSPESP: Você conhece bem a segurança pública. Provavelmente tem uma visão crítica muito ampla por ter passado por tantas instituições. Acredito que sua visão também tenha influência no resultado dos trabalhos voluntários que realiza. Qual o principal problema do sistema prisional, ainda considerando que não é possível elencar apenas um.

Lívia: Na minha visão, o grande problema é quando os próprios servidores chegam derrotados para assumir seus cargos, seja por desconhecimento da função ou pela má fama que infelizmente a nomenclatura ASP leva.

 

SIFUSPESP: Você consegue ver uma luz no fim do túnel para o sistema prisional brasileiro? Já ouvi muitos depoimentos de funcionários do sistema que acreditam que não existe solução.

Lívia: Existe solução sim. Investimento e formação.

 

SIFUSPESP: Fale-me do seu pai e do que você conheceu sobre o sistema prisional por meio dele e como ele encarou a sua entrada, desde os 17 anos. Creio que deva ser defensor do servidor público. Também é comum ouvir frases como "jamais permitiria que meu filho entrasse nessa profissão", no caso Agente de Segurança Penitenciária. Como foi no seu caso? Você teve apoio?

Lívia: Meu pai nunca reclamou dos problemas que enfrentou na SAP. Ele já ficou refém em três rebeliões, porém nunca levou suas aflições para casa. Ele sempre me incentivou a prestar concursos, e quando passei para agente penitenciário, vi no rosto dele que foi o maior orgulho que sentiu. Ele sempre me orientou e me incentivou a estudar para poder fazer a diferença na Secretaria. Quando virei docente na EAP e comecei apresentar os projetos de cursos, ele começou a apontar as dificuldades que tinham e a falta de conhecimento dos funcionários. Por ser vice-presidente da CIPA da unidade, comecei a buscar cursos voltados a realidade dos funcionários e lecar os instrutores até a unidade, para que todos tivessem acesso a este conhecimento. Tivemos cursos de técnicas no uso de algemas, direção defensiva, primeiros socorros, palestras motivacionais, palestras sobre os registros de ponto e direitos do funcionários no que diz respeito ao departamento pessoal e muitos outros temas.

 

SIFUSPESP: O trabalho do funcionário do sistema penitenciário não é um trabalho simplificado como as pessoas, no senso comum, enxergam. Não trata-se "apenas fechar as grades". Exige certo serviço de inteligência, negociação diária, e creio que preparo de como reagir em diversas situações. Estudo e preparo seriam um investimento essencial para sistema penitenciário?

Lívia: Se me abrirem as portas da maneira que gostaria, existe um milhão de planos na minha cabeça pra melhorar a SAP. O orgulho e o comprometimento do agente penitenciário tem que vir desde a formação. Sou muito adepta ao fardamento, isso é essencial tanto para a população quanto para o próprio servidor. A população vendo um agente penitenciário alinhado, vê que é uma pessoa diferenciada, impõe respeito, mostra que não é só mais um, que ele tem o conhecimento para desempenhar aquilo que faz.

 

SIFUSPESP: A respeito do crime organizado. Há quem diga que seja o maior problema da segurança pública hoje. Com toda a experiência, aponte como lidar com esse problema que realmente é grave.

Lívia: O crime organizado não é o maior problema, o maior problema é reconhecermos isso como o problema. Todos os reeducandos tem que ser tratados iguais, a partir do momento que há distinção por isso ou por aquilo, o problema começa a existir.

 

SIFUSPESP: Fale um pouco sobre esta questão tão abordada pela mídia e de certa forma “enaltecida” como o maior problema do sistema: as facções criminosas.

Lívia: O crime organizado existe? Sim. Claro que sim. Mas temos que desenvolver nossa função independente disso. Isso é uma subdivisão que existe entre eles. Nossas funções e a qualidade do desempenho delas tem que ser a mesma, os reeducandos pertencendo ou não a alguma facção, e a partir do momento que existe a  diferença é que inicia-se o problema. O agente está ali para realizar as atividades laborais dele. A partir do momento que você diferencia o tratamento um do outro por pertencer ou não a algum tipo de "doutrina", você acaba dando força para alguns "pensamentos e ideais". Não estamos ali para isso, estamos para cumprir nosso rol de atividades com total imparcialidade.

 

SIFUSPESP: Como mudar a visão de que o crime organizado não é o maior problema? Fale um pouco mais a respeito da frase dita "do problema começar existir a partir do momento em que se acredita nisso".

Lívia:. Temos que mudar o pensamento e a visão de tudo. E partir do princípio que estamos ali para desenvolver uma função, inclusive destacando uma das mais perigosas do mundo, então temos que assumir a ela de cabeça erguida e termos a consciência de que não escolhemos e sim fomos nós os escolhidos para tal função e fazer o melhor na condição em que temos hoje.

 

SIFUSPESP: Acredita que com o reconhecimento da Polícia Penal esse quadro possa mudar? Possibilitaria uma nova organização a partir de uma Lei Orgânica bem elaborada.

Lívia: A Polícia Penal possibilitaria sim uma nova organização. Vejo como se fosse um grande passo a ser dado para nossa classe.

 

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