Serviço de referência em psiquiatria infantil do Hospital do Servidor Público Estadual possui conexão com rede credenciada de clínicas multidisciplinares, que promovem tratamento integral relacionado à fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicopedagogia de crianças com prevalência do chamado Transtorno de Espectro Autista(TEA). Diretoria de Saúde do SIFUSPESP quer que instituto amplie serviço por meio de convênios no interior e no litoral
por Giovanni Giocondo
De acordo com a definição do Ministério da Saúde, o transtorno de espectro autista(TEA) é considerado “ um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades”.
Atrasos na fala, isolamento e agressividade “com risco de dano a si e a outros” são apenas alguns dos sintomas mais latentes entre as vítimas do problema.
A maioria dos diagnósticos são obtidos ainda na primeira infância, sobretudo em meninos, e tornam-se verdadeiros desafios para os pais e outros familiares, que a partir da constatação do TEA, passam a ter de se dedicar com muito afinco para que crianças e até adolescentes possam ter acesso a um atendimento de saúde mental multidisciplinar, que possa garantir a eles a contenção do avanço desse transtorno de forma qualificada e humanizada.
Dados coletados em 2020 pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças(CDC), uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, revelaram que uma em cada 54 pessoas possui prevalência de autismo. O Brasil utiliza essas estatísticas como base por não possuir pesquisas concretas que embasem os estudos dos profissionais de saúde e das instituições que trabalham na área.
Entre os meninos, a probabilidade é quatro vezes maior na comparação com os casos entre meninas, e o diagnóstico mais comum acontece entre os 2 e os 3 anos de idade.
No contexto do Estado de São Paulo, muitos servidores públicos, entre eles trabalhadores do sistema prisional de todas as regiões, já tiveram entre seus dependentes crianças diagnosticadas com espectro de autismo ou que possuem suspeita de manifestações do TEA, agudas ou menos graves.
Alguns deles procuraram a Diretoria de Saúde do SIFUSPESP, que entrou em contato com o Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual(IAMSPE) e verificou que o atendimento para esses pacientes é feito exclusivamente na capital, o que acaba por ser um transtorno extra para quem vive longe de São Paulo.
Como funciona o atendimento em São Paulo
Em entrevista à assessoria de imprensa do SIFUSPESP, a psiquiatra do Hospital do Servidor Público Estadual(HSPE) de São Paulo, Dra. Mariana Milan, informou que a equipe do IAMSPE é responsável pela recepção dessas crianças. No local, é elaborado tanto o diagnóstico dos casos de TEA quanto o início do acompanhamento que já tiveram a identificação do autismo feita em consultas com neuropediatras e outros médicos.
A continuidade do tratamento, no entanto, é feita somente em clínicas da rede credenciada do instituto, também na capital, onde existe a oferta de um serviço multidisciplinar e integral com psicopedagogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais de saúde. No IAMSPE, as consultas com a equipe de psiquiatria podem ser agendadas à semelhança das demais eletivas.
De acordo com a Dra. Maiara Milan, este acompanhamento multidisciplinar é fundamental para que as crianças com diagnóstico de autismo tenham acesso ao melhor atendimento disponível. Nesse sentido, ela avalia que quanto mais cedo os pais e familiares procurarem o atendimento do IAMSPE, melhor.
“Eles devem observar no comportamento de seus filhos algumas características do transtorno, entre elas o isolamento social, a demora acentuada no desenvolvimento da fala, a tendência a promover atividades em modelo de repetição constante, e procurar atendimento médico para prevenir o avanço do problema”, completa.
Propostas para melhorar a saúde das crianças e adolescentes a partir da extensão do serviço para o interior e litoral
Apesar da disponibilidade de atendimento na capital, o diretor de Saúde do SIFUSPESP, Apolinário Vieira, lamenta o fato de não existirem convênios semelhantes com clínicas especializadas nas demais regiões do Estado. No olhar do sindicalista, fica difícil para o servidor que vive em lugares mais remotos dar atenção mais exclusiva para seus filhos e outros dependentes no que se refere a um transtorno tão complexo.
“Pelo que é possível constatar, a saúde da criança e do adolescente que lida cotidianamente com o autismo precisa ser acompanhada de perto por profissionais qualificados - daí até o alerta da própria psiquiatra do IAMSPE sobre a necessidade do tratamento multidisciplinar e integral. Mas como fica para aqueles que são do interior e do litoral, e que dependem do plano de saúde para serem atendidos? Esses deslocamentos contínuos não são acessíveis para a maioria” critica.
Uma das soluções apontadas por Apolinário Vieira é o estabelecimento de convênios com clínicas especializadas em outros municípios, à semelhança do que é feito na capital. “Cidades maiores que são polos regionais - entre eles Campinas, Ribeirão Preto, Bauru, São José do Rio Preto, Taubaté, Santos e Presidente Prudente, certamente possuem esse modelo de acompanhamento do TEA, que iremos buscar para os servidores”, relata.
A diretoria de Saúde do SIFUSPESP está se aprofundando em pesquisas e estudos sobre o tema, vai oficiar o IAMSPE a respeito da necessidade desse atendimento mais amplo, e pretende colaborar com esse objetivo dialogando com os profissionais de saúde e as administrações dos espaços com potencial para serem credenciados pelo instituto.
“Para o sindicato, em primeiro lugar vêm o bem estar, a saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores do sistema prisional e de suas famílias. É por essa razão que vamos atuar nessas três pontas. Recepcionando as demandas regionais e individualizadas, buscando parcerias e exigindo que o IAMSPE invista no setor, já que este é um problema de saúde que se tornou muito comum e pode atingir qualquer pessoa”, conclui Apolinário Vieira.