Acusado de proferir falas repulsivas contra mulheres ucranianas que se refugiaram da guerra contra a Rússia, ex-parlamentar ficará inelegível por oito anos. Durante sessão que marcou fim da trajetória do membro do MBL pela Assembleia, ocorrida nesta terça-feira(17), colegas lembraram de histórico desprezível das palavras do famigerado “Mamãe Falei”, que durante discurso no plenário da Casa, chamou servidores públicos de “vagabundos”
por Giovanni Giocondo
Os deputados estaduais de São Paulo decidiram, por unanimidade, cassar o mandato do agora ex-deputado Artur do Val, vulgo “Mamãe Falei”(sem partido). A sessão plenária que ratificou o fim da trajetória do membro do Movimento Brasil Livre(MBL) pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo(Alesp) - ao menos pelos próximos oito anos, período de duração da inelegibilidade - aconteceu na tarde desta terça-feira(17).
Foram 73 votos a favor, nenhum contra e zero abstenções da punição máxima ao parlamentar, acusado de ter falado de maneira preconceituosa, repulsiva e sexista sobre mulheres ucranianas refugiadas da guerra contra a Rússia. A ex-embaixatriz da Ucrânia no Brasil, Fabiana Tonenko, participou da cerimônia que levou ao fim do processo.
Origem da condenação e histórico de indisciplina
Os áudios atribuídos a Artur do Val vieram a público no início de março, quando o ex-deputado estava na Ucrânia, licenciado do cargo, supostamente “para ajudar as vítimas do conflito”, e acabou dizendo que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”.
Alguns dias depois, 15 parlamentares assinaram uma representação no Conselho de Ética da Alesp, que aceitou o pedido e deu início ao processo, concluindo favoravelmente à cassação no dia 12 de abril. O relatório final, do deputado Delegado Olim(PP), foi entregue na semana passada à Mesa Diretora da Casa, argumentando que “Mamãe Falei” era reincidente nas faltas disciplinares. Em 20 de abril, Artur do Val chegou a renunciar ao cargo para tentar evitar o processo.
“Mamãe Falei” chamou servidores públicos de “vagabundos” em 2019
Uma dessas faltas graves - apesar de não anotada oficialmente pelo colegiado na ficha suja do deputado - foram as palavras nocivas de Artur do Val proferidas contra funcionários públicos do Estado durante um discurso em plenário, em dezembro de 2019.
Por ocasião da análise da Reforma da Previdência enviada pelo então governador João Doria(PSDB), o deputado usou o púlpito para taxar de “vagabundos” os servidores que protestavam contra o Projeto de Lei 18/2019.
A lembrança não saiu da memória do deputado estadual Teonílio Barba, líder do PT na Alesp que, naquela ocasião, havia entrado com um pedido no Conselho de Ética por quebra de decoro contra Artur do Val. Na sessão de hoje, ele recontou o episódio(video no final do texto), no qual um dos protagonistas do enfrentamento contra “Mamãe Falei” foi o presidente do SIFUSPESP, Fábio Jabá, a quem o parlamentar cassado “chamou para a briga”.
“Pedimos desculpas às mulheres ucranianas, em nome da ex-embaixatriz Fabiana Torenko, pelas falas absurdas desse canalha, e também não podemos permitir que um deputado, eleito democraticamente, venha a público para ofender os servidores públicos como ofendeu, xingando de “vagabundos e vagabundas” policiais penais aqui representados em plenário, médicos, enfermeiras, professores, assistentes sociais e outros profissionais” .
Como representantes do SIFUSPESP, acompanharam a votação a coordenadora da sede regional do sindicato em São Paulo, Maria das Neves Duarte; o presidente Fábio Jabá, outros servidores do sistema prisional e aprovados em concursos da Secretaria de Administração Penitenciária(SAP).
O grupo está acampado na Alesp há 30 dias, em manifestação pela regulamentação da polícia penal, as nomeações dos candidatos e candidatas desses certames, o pagamento do bônus penitenciário e outras pautas de interesse da categoria.
Histórico de influenciador e laços com o MBL
Eleito como o segundo deputado estadual mais votado em 2018 pelo DEM - partido do qual foi expulso por “conduta incompatível com os preceitos e deliberações do partido”, Artur do Val também passou pelo Patriota e pelo PODEMOS. Ele alçou à fama graças aos vídeos que publicava no Youtube, inicialmente para defender protestos de rua que pediam o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff(PT), desde 2015.
No MBL, “Mamãe Falei” ainda é um dos principais influenciadores de jovens “liberais” que têm, entre outras figuras de referência, os deputados federais Kim Kataguiri(DEM-SP) e Marcel Van Hatten(NOVO-RS) - ambos defensores, na Comissão de Constituição e Justiça(CCJ) da Câmara, da proposta de privatização do sistema prisional brasileiro a partir do Projeto de Lei 2.694/2015.