Pretensão ficou clara em fala do ministro da Economia, que disse nesta segunda-feira (27) que servidores “ficam em casa com a geladeira cheia assistindo à crise enquanto milhões de brasileiros perdem o emprego”. Em fevereiro, Paulo Guedes já havia comparado trabalhadores a “parasitas”.
por Giovanni Giocondo
O governo Jair Bolsonaro quer que governadores e prefeitos congelem os reajustes salariais do funcionalismo público por dois anos em troca de um pacote de ajuda da União que chegaria a R$ 40 bilhões e seria repassado pelos próximos quatro meses. A contrapartida desse pacote já teria sido acertada com o Senado, mas depende de um acordo que ainda não foi costurado pelo Planalto com Estados e municípios.
Como forma de reforçar a pretensão de eleger o servidor público como vilão neste momento de crise do coronavírus, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira (27) que os servidores públicos estão em casa “assistindo à crise, com a geladeira cheia, enquanto milhões de brasileiros estão perdendo emprego”, e pediu aos trabalhadores do setor um “sacrifício pelo Brasil”. A declaração de Guedes aconteceu pouco após ele deixar uma reunião com o presidente.
Para o ministro, eleger os servidores públicos como vilões da crise econômica não é novidade. No início de fevereiro, cerca de um mês antes do início da pandemia do coronavírus no Brasil, ao discursar a um público de empresários e defender a chamada “reforma administrativa”, ele declarou que funcionários públicos eram “parasitas do governo” por terem aumento salarial anual, estabilidade de emprego, aposentadoria generosa e onerar o “hospedeiro”, que seria o Estado.
Até o momento, não há qualquer estudo feito pelo governo federal com dados oficiais sobre os possíveis custos dos aumentos salariais dos servidores públicos, tampouco a respeito dos impactos que essa economia poderia ter nos cofres dos Estados, municípios e União, bem como quanto desses R$ 40 bilhões seriam reinvestidos em serviços prestados à população.
Maioria dos servidores públicos está trabalhando e sob risco de morte pelo coronavírus
Longe de estarem em casa - e muito menos “com a geladeira cheia” - os policiais penais de São Paulo estão trabalhando, à exceção daqueles que solicitaram e tiveram aceito pedido de licença médica, ou que foram internados com os sintomas do coronavírus. A maioria se mantém na linha de frente e sob risco de contaminação pela COVID-19 todos os dias.
Os funcionários do sistema prisional paulista estão sem reajuste real desde julho de 2014. Em março de 2018, tiveram um aumento pífio de 3%, e em novembro de 2019, outro de 5%. Nos últimos seis anos, a inflação acumulada já ultrapassa os 35%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo(IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As contas oficiais não batem com o “cálculo” de Paulo Guedes, e não há como promover a mágica do crescimento da economia se a população não tem dinheiro na mão para consumir. E os trabalhadores penitenciários e seus familiares fazem parte do povo. A falta de trabalho na iniciativa privada, simultaneamente, não guarda relação com excesso de benefícios para o servidor público. O ministro usa dos mesmos chavões de sempre para tentar enganar a população quando defende na verdade os interesses dos bancos.
O sindicato acredita que fora do sistema, a situação de precariedade dos salários é semelhante tanto na esfera federal quanto em Estados e principalmente em municípios. A maioria ganha em média muito pouco diante de um cenário de crise econômica que já vem desde 2015, com aumento da inflação e perda do poder de compra, e não têm tido respeitadas as suas datas-base para reajuste anual - previstas na Constituição.
Porém, sempre que se configura uma nova crise econômica - e agora sanitária -, esses servidores são jogados aos leões por políticos e banqueiros travestidos de ministros que não valorizam sequer o trabalho corajoso e destemido que muitos vêm realizando para defender a vida dos brasileiros neste momento em que o coronavírus ceifa a vida de tantos cidadãos. Nesse sentido, a forma como o governo Bolsonaro tratam os funcionários públicos assusta o SIFUSPESP, mas não impede o sindicato de lutar.
“Se policiais penais, militares e civis, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, assistentes sociais, médicos, dentistas, psicólogos, auxiliares de limpeza, defensores públicos, coveiros e muitos outros servidores que estão à disposição do povo colocam sua existência e de suas famílias em perigo para fazer frente ao vírus, qual outro sacrifício deverão fazer? Abdicar de um direito para não morrerem de fome?”, questiona o presidente do SIFUSPESP, Fábio César Ferreira, o Fábio Jabá.
É em defesa da categoria e de todas as demais que têm dado a vida pelos brasileiros que o SIFUSPESP conclama os trabalhadores penitenciários a se unirem contra mais essa proposta nefasta, que pode piorar a crise já tão grave que o país atravessa.
“A política econômica de Paulo Guedes é a política genocida da destruição dos serviços públicos e do desmantelamento do atendimento básico à maioria dos brasileiros, que mais dependem desses serviços. Nossa situação atual é caótica, dramática, e poderia ser muito, mas muito pior, se os funcionários públicos e a estrutura que lhes auxilia não existisse ou fosse mínima. Quantas vidas mais não perderíamos sem o SUS, por exemplo? Não podemos concordar com esse raciocínio e por esse motivo lutaremos para manter nossos direitos até o fim”, reitera Jabá.