Apesar da insistência em exigir crédito por ação, Palácio dos Bandeirantes tão só acatou ordem judicial para organizar logística da ida de detentos a presídios federais
por Giovanni Giocondo
Reportagem publicada pelo portal Uol no último sábado (27) aponta que o governador João Doria (PSDB) insiste na tese de que é dele o mérito pela transferência de dezenas de lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) para presídios federais de segurança máxima.
As transferências começaram em janeiro, a partir de ordens judiciais decorrentes de investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão vinculado ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
Desde então, o governador tem utilizado de sua máquina de publicidade institucional - R$ 150 milhões em contrato com uma empresa de comunicação até o fim de 2022 - para se dar os créditos por ações de combate ao crime.
A última dessas propagandas começou a circular pelas redes em 22 de setembro. Um vídeo de cerca de um minuto destaca as medidas adotadas pela gestão Doria na área de segurança pública e, entre cenas da entrega de viaturas à polícia militar, estatísticas sobre a redução de índices de violência e gravações de policiais atirando contra alvos, cita a “transferência das lideranças do PCC” como uma das principais ações do governo no combate ao crime.
Apesar de dizer que a ação foi articulada pelo governo do Estado, Doria não encontra ressonância nas palavras do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco, justamente o homem ameaçado de morte pela facção criminosa e que depende há anos de escolta policial 24 horas devido ao fato de ter colocado esses líderes atrás das grades.
O plano para matar Gakyia foi o estopim para a determinação judicial que levou à transferência das 27 lideranças para fora do Estado. O drama do promotor foi mostrado pelo programa Fantástico, da TV Globo, veiculado no dia 15 de setembro, e pode ser assistida acessando o link.
Em entrevista ao repórter Luís Adorno, do Uol - matéria neste link - o promotor deixou claro que “o papel do governo federal é apenas disponibilizar vagas através do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) e de organizar a "logística da transferência".
"Apenas isso. O mesmo se diz do governo Doria, que também apenas auxiliou na logística. O que houve foi apenas cumprimento de ordem judicial. Não cabia a governos federal 'determinarem' ou 'negarem' as transferências", afirmou.
No olhar do SIFUSPESP, além de exagerar nos créditos que nem são seus, o governo estadual pode estar por trás da viabilização de um novo acordo com o PCC aos moldes do que foi feito em 2006, quando os ataques feitos pela facção contra agentes penitenciários, policiais civis, militares, além de delegacias e prédios públicos, cessaram e, coincidentemente, os índices de criminalidade no Estado começaram a baixar.
Agora, em vez de apenas permitir que os negócios do crime organizado fluam normalmente fora dos muros das unidades prisionais, o PSDB de Doria prossegue com sua pretensão de privatizar o sistema - inclusive com edital já lançado - para entregar as penitenciárias nas mãos do PCC e garantir que assim a facção possa exercer seu poder e influência sobre as empresas que vão assumir a gestão dos presídios.