Procuradoria da Suíça identificou que Paulo Preto fez repasse financeiro “a pessoas ligadas à facção criminosa”. Preso na terça-feira, engenheiro disse em tom de ameaças que valores em contas no país europeu “não são só dele”.
O ex-diretor de obras do Departamento Rodoviário S.A(Dersa) do governo de São Paulo Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, foi acusado de ter pago propinas ao Primeiro Comando da Capital(PCC).
De acordo com a Procuradoria de Justiça da Suíça, em comunicado oficial encaminhado à Justiça brasileira em agosto de 2017, Paulo Preto teria feito repasses de “comissões ocultas” a pessoas ligadas à mais poderosa facção criminosa do país.
A revelação foi feita na última terça-feira, 19/01, após o operador do PSDB ser preso pela terceira vez, agora na esteira da Operação Lava-Jato, sob acusação de ter participado de operações de lavagem de dinheiro da empreiteira Odebrecht que somaram, segundo a Polícia Federal, R$132 milhões de reais. Em clara ameaça a cardeais tucanos, Paulo Preto disse que o dinheiro “não é só dele”.
Os valores teriam saído de quatro contas em nome da offshore Groupe Nantes, controlada pelo engenheiro e identificadas pelos órgãos de fiscalização do país europeu após um pedido de cooperação internacional feito pelo Ministério Público Federal brasileiro no processo que investiga desvios de verbas de obras do Rodoanel, empreendimento tocado pela Dersa e que teve a Odebrecht como concorrente.
Apesar de não ter revelado os nomes das pessoas que seriam as destinatárias desses valores nem os motivos pelos quais Paulo Preto abasteceu o PCC com “comissões ocultas”, a acusação feita pela Justiça Suíça é gravíssima e coloca em evidência os riscos aos quais o sistema prisional paulista está sendo submetido ao longo da última década com a ligação comprovada do operador financeiro do PSDB com a facção criminosa.
Para os trabalhadores penitenciários, que têm enfrentado com muita coragem a criminalidade dentro e fora das unidades prisionais e que jamais contaram com apoio concreto das inúmeras gestões tucanas para investimentos no setor - desde a valorização salarial e de melhoria de condições de trabalho até o apoio logístico, em estrutura e inteligência para o combate às facções - a notícia é triste e estarrecedora.
Estes dados já haviam sido divulgados desde 2017 por autoridades da Suíça. Para que um tipo de documento desse seja informado para autoridades brasileiras, foi passado previamente por uma das melhores equipes de auditoria financeira e contra crimes dessa natureza, uma vez que a reputação da Suíça, como país neutro e com muito prestígio no âmbito da segurança bancária. Outra questão a ser considerada, para aqueles que dominam as características de crimes de lavagem de dinheiro, as características do caso, podem levar a crer que se trata de uma única conta de concentração e redistribuição de dinheiro para diferentes organização operando em conjunto.
Histórico de Paulo Preto complica o PSDB
O engenheiro Paulo Preto é suspeito de ser o principal organizador de esquemas de pagamento de propina, desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro para o PSDB quando foi diretor da Dersa na gestão de José Serra(2007-2010). Ele também atuou como diretor de relações institucionais no governo Geraldo Alckmin, entre 2005 e 2006.
Paulo Preto já havia sido preso outras duas vezes, em abril e maio do ano passado. Na ocasião, ficou detido 36 dias e, sentindo-se abandonado pelo partido, chegou a ameaçar o PSDB de fazer uma delação a fim de revelar segredos que o livrariam da prisão.
Na última terça, o engenheiro disse que as contas rastreadas pelos suíços tinham “outros titulares” que poderiam ser o agora ex-presidente da Investe SP do governo João Dória, Aloysio Nunes, e também José Serra. Foi Aloysio Nunes, quando era secretário da Casa Civil do governo Serra, que indicou o engenheiro ao governador para atuar na Dersa.
A ligação de Aloysio Nunes e Paulo Preto ultrapassa os limites da administração pública. A filha do engenheiro e a esposa do tucano fizeram juntas um empréstimo para que o cacique do PSDB pudesse comprar um apartamento no bairro nobre de Higienópolis, região central de São Paulo, em 2010. O caso foi revelado pelo jornal Folha de São Paulo.
Secretários de Dória se afastam para proteger a imagem do governo e defenderem-se da Lava Jato
Nomeado presidente da Investe SP pelo governador João Dória, também do PSDB, Aloysio Nunes se retirou do cargo logo após ser alvo de um mandado de busca e apreensão por parte da Polícia Federal e do MPF em sua casa, também na terça.
A revelação de que Paulo Preto teria enviado um cartão de crédito oriundo das contas suíças em favor de Aloysio durante a estadia do tucano em um hotel em Barcelona, no Natal de 2007, caiu como uma bomba no colo do ex-ministro de Relações Internacionais do governo Michel Temer. Apesar do escândalo, ele não foi preso.
O agora ex-presidente da Investe SP, responsável por captar investimentos para o governo paulista, é o segundo secretário de Dória e ex-ministro de Temer a pedir licença da função para se defender das acusações que pesam por parte da Polícia Federal e do MPF no âmbito da Operação Lava-Jato.
O outro caso é o de Gilberto Kassab, nomeado por Dória secretário da Casa Civil, mas que ainda em dezembro solicitou afastamento por tempo indeterminado da função. Ele é investigado pela Procuradoria-Geral da República(PGR) sob suspeita de receber dos empresários Joesley e Wesley Batista, da JBS, R$350 mil em espécie por mês, de 2010 a 2016, em vantagens consideradas indevidas para uma empresa da qual era sócio.
Ainda restam na gestão Dória mais quatro ex-integrantes dos ministérios de Temer. O principal deles é Henrique Meirelles, atual secretário de Fazenda e Planejamento, entusiasta do congelamento dos salários do funcionalismo e um dos artífices da pretensão de Dória de privatizar as unidades prisionais com a justificativa de torná-las mais eficientes.
Privatização cria oportunidade para o crime organizado
O temor dos trabalhadores penitenciários é que a série de acusações graves contra nomes fortes do PSDB envolvidos em operações ilegais com dinheiro público e sua ligação com o PCC possa reforçar as teses de que o crime organizado possui controle sobre políticos tucanos e que o futuro do sistema prisional seja insustentável caso a facção assuma o comando das unidades a partir do processo de concessões das penitenciárias a empresas.
Entenda porque em: http://sifuspesp.org.br/noticias/6338-faccoes-ameacam-seguranca-nacional
http://sifuspesp.org.br/noticias/6338-faccoes-ameacam-seguranca-nacional
O princípio da impessoalidade administrativa é previsto constitucionalmente e prevê regras e condução dos bens e funções públicas de forma desvinculada a qualquer forma que possa beneficiar um ator privado. Nesse sentido, a maior eficiência do Estado deve passar por mecanismos de proteção do erário público e no caso da administração penitenciária, deve preocupar-se com questões de segurança pública. Nesse cenário, mecanismos de propaganda pública devem se preocupar somente em fazer de forma eficiente a informação de como os projetos públicos estão sendo pensados, e abrir para o debate da sociedade as questões importantes.
Não é o que está passando com a questão da privatização do sistema penitenciário, sobretudo, quando aqueles que conhecem o sistema encontram indícios fortes da possibilidade de infiltração do crime organizado e de aproximação e fusão entre PCC e Comando Vermelho. Lutaremos até o fim contra o discurso vazio de que privatizar é inevitável. Nosso compromisso é contra o crime organizado e em favor de toda a sociedade brasileira.
Links relacionados: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/02/paulo-preto-fez-ameacas-a-tucanos-e-afirmava-ter-socios-na-conta-da-suica.shtml
(matéria do Valor Econômico): https://www.pressreader.com/@nickname11256375/csb_i3q5c6XMEY7mkn4REOwcRhYm8vhPXijb5Y1545uMImA48VWZV1Z4r-0cI-OEzv2c
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