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O Repórter Fotográfico Diego Calvo, conta, em primeira pessoa, sua experiência cobrindo a ida dos Agentes Penitenciários a Brasília.

Aos gritos de “vocês são heróis”, a turba preta e cinza dos Agentes Penitenciários passava pelos 4 quilómetros que separam o estádio Mané Garrincha (ponto inicial da marcha) do Congresso Nacional, pela Via N1 do Eixo Monumental, naquele histórico dia 24 de maio em Brasília.

Eu, como repórter fotográfico, fui cobrir esta marcha em especial. Mal sabia que o que me esperava, no fim do trajeto, era uma Praça de Guerra no gramado central projetado por Niemeyer.  Enquanto fotografava o caos, manifestantes corriam desesperados em meio a bombas de gás lacrimogêneo, tiros de borracha e spray de pimenta.

Avistei ao fundo uma equipe de jornal filmando e fotografando, lindamente, na laje do Palácio da Justiça, atrás das forças de segurança, protegidos pela distância da batalha que se travava abaixo deles, cobrindo tudo com suas teleobjetivas caríssimas.

Mas vamos com calma no andor, pois a caminhada não começou ali. Para entender melhor as coisas, te convido a voltar alguns dias antes.

Tentarei resumir em dois parágrafos para não te cansar: No dia primeiro do mesmo mês, saí de São Paulo rumo a Brasília. Minha função era cobrir as manifestações junto ao Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp),indo, inclusive, de carona com eles. Eram dois pedidos: Inclusão da categoria na aposentadoria especial de policiais (na Reforma da Previdência) e reconhecimento constitucional como Policia Penal.

Cumpri parcialmente minha missão. Vou explicar. No dia 2, cobri a ocupação do Palácio da Justiça. No dia 3, com a conquista dos direitos garantidos, voltamos para São Paulo, mas os deputados traíram a classe novamente e, os Agentes que ficaram em Brasília, invadiram a sessão da comissão que discutiam a PEC 287. Senti ódio por não estar lá fotografando, mas não daria tempo de voltar. Triste, segui para casa!

Dias depois, fui informado pelo presidente do Sifuspesp, Fábio Jabá, que iriamos novamente para Brasília, com partida programada para dia 23, chegada na Capital Federal dia 24, saída no mesmo dia e chegada a São Paulo dia 25, ou seja, uma loucura sem tamanho.

Para piorar a situação, tive uma Paralisia Facial, que sinto os efeitos ainda hoje, escrevendo este texto. No entanto, precisava ir a Brasília, precisava voltar lá com os Agentes Penitenciários, precisava terminar o que tinha começado. Mas como? Sim, ignorei as recomendações médicas (e familiares) e embarquei nessa loucura.

Às 14h, saímos da sede do sindicato na capital paulista e, às 11h do dia seguinte, chegamos à Brasília. O ponto de encontro foi no Estádio Mané Garrincha. Ali estavam os demais Agentes Penitenciários do Brasil e outras categorias, para caminhar até o Congresso Nacional.

As bandeiras carregada eram basicamente 4: Contra a Reforma da Previdência, Contra a  Reforma Trabalhista, Diretas Já e Fora Temer. Para os Agentes ainda se incluía mais uma, a da Polícia Penal.

A marcha foi de protesto, mesmo assim, havia um clima amistoso entre as classes. Era bonito ver as bandeiras tremulando contra o vento seco. Obtive várias imagens boas pelo caminho. Foram quatro quilómetros bem produtivos, apesar do sol forte do meio dia. Aproveitei para pegar alguns depoimentos. As pessoas sorriam ao reivindicarem. O clima era bem salutar, até que chegamos à grade que dividia onde podíamos ir e onde não podíamos ir!

Daí para adiante, a coisa começou a esquentar na terra cabocla de Renato Russo e companhia. Quem chegasse perto da grade, era expulso pelos nervosos sprays de pimenta. Eu e minha cara torta pela paralisia facial, começamos a enquadrar e clicar, enquadrar e clicar, enquadrar e... sair correr para outro ponto porque um policial fez questão de me temperar com seu Spray.

Esqueçam as grades, em pouco tempo elas não existiam mais. Os policiais, armados com a ordem de dispersar e escudeirados pela chancela do Palácio do Planalto, atiravam balas de borracha na multidão. Isso, digo a você, foi muito antes de começarem as depredações. Parecia evidente que tudo não passava de uma técnica banal de inflamar a multidão e depois vender o discurso sórdido de “tá vendo, eram todos vândalos!”.

 

Bombas de gás lacrimogêneo estouravam em grandes quantidades, não dava para saber quando uma ia cair ao seu lado, ou na sua cabeça. Até helicóptero foi usado para arremessar as bombas. Um homem, já de idade, me disse que um dos policiais apontou sua lança granadas M60, usada para jogar as bombas de gás, e atirou. Não acertou por pouco.

Você já respirou gás lacrimogêneo? Pois não recomendo! É um negócio que toma conta de você. Sua pele arde, seus olhos ardem, seu nariz arde, sua garganta arde e, em pouco tempo, a única coisa que se quer é sair dali o mais rápido possível.

Bom, aguentei o quanto pude! Fotometrava, enquadrava e clicava! Fotometrava, enquadrava e clicava!  Esse ritual seguiu por longo tempo. Sempre que virava para um lado, fotometrava, enquadrava e clicava! Boas imagens saíram dali. Resisti ao máximo, e olha que, por conta da paralisia, um dos meus olhos, o esquerdo, não piscava. Saí correndo, meio desorientado, com medo de ser atingido pela costas, mas fazer o que? Eu tinha que sair dali!

No meio da multidão desorientada, tentando me livrar do gás lacrimogêneo esfregando as mãos nos olhos, um garoto, de seus 17 anos mais ou menos, apontou uma espécie de spray na minha cara. Pensei: “Ferrou, agora ele quer me tacar mais spray?”, mas não, o pobre garoto só queria me ajudar. O que tinha em suas mãos era uma solução de água e leite de magnésio que aliviava a dor (só fiquei sabendo a composição depois) e a solidariedade dele me poupou um tempo precioso, pois assim que me recuperei, voltei ao campo de batalha.

Esta Ajuda se repetiu muitas vezes, mas com outros enfermeiros improvisados, no decorrer do trabalho, sempre saindo para me recuperar e voltando para fotografar.

Quando as depredações nos ministérios começaram, corri para lá. Já estava acompanhado do meu amigo Sérgio Lybia, parceiro que ajudou a viabilizar minha ida a Brasília.

Em dado momento, em meio a barricadas ardendo em chamas, policiais que se posicionaram entre os Blocos E e D da Esplanada dos Ministérios, abriram fogo contra os manifestantes. Sim, usaram armas letais! Foi ali que um manifestante foi baleado e teve que ir as pressas para a sala de cirurgia.

Fotografei os policiais em questão, um deles, inclusive, chegou a apontar a arma para nós, mas não me abstive no momento. Pensando bem agora, ali corremos um sério risco!

O saldo, no final do dia, foi de 49 atendimentos emergenciais, destes, 8 policiais. Ao menos 4 manifestante foram feridos gravemente, sendo que 2 foram atingidos no olho por balas de borracha.

O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal soltou nota de repúdio a ação da Polícia Militar, informando que 4 jornalistas foram agredidos por eles.

Ah! Lembra da equipe que filmava e fotografava, calmamente , respirando ar puro, na laje do Palácio da Justiça, pois bem, do alto de suas arrogâncias, deram a notícia de que vândalos invadiram Brasília! Será que lá de cima não dava para ver as pessoas que estavam apanhando na luta por um Brasil melhor!

 

#ForaTemer #PolíciaPenal #ContraPEC287

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