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Em 11 de março de 2014 finalmente o governo recebeu as entidades representativas dos servidores do sistema prisional paulista para negociar as reivindicações feitas pelos trabalhadores. Para surpresa geral, os representantes do governo já iniciaram a reunião informando que ali seriam discutidas as reivindicações da campanha salarial de 2013. Não bastasse esse despropósito temporal, a proposta trazia itens que não constavam na pauta de reivindicação dos trabalhadores e, mesmo assim, não iriam retroagir. Ou seja: a reunião feita após a data base de 2014 se referia a uma pauta do próprio governo (e não dos trabalhadores), não contemplava questão salarial ou de condições de trabalho, e ainda por cima era do ano passado, embora qualquer benefício que a proposta pudesse abarcar seria válida somente em 2014.

O que o governo esperava? Que os servidores, sufocados por uma política que não valoriza o trabalhador, engolissem quietinhos esse novo sapo goela abaixo?

O governo sabia da disposição da categoria em entrar em greve. A categoria estava em estado de greve desde 13 de novembro de 2013. O SIFUSPESP e o Sindcop avisaram aos representantes do governo naquela reunião que a proposta seria rejeitada pela categoria, pois não contemplava nada que havia sido pedido. Como sempre, apostou na inércia dos trabalhadores e pagou para ver: a nova reunião de negociação, marcada para dia 14, foi “adiada sem nova data”. Pagou pra ver e desta vez viu.

Isso tudo listado até agora não explica a decisão dos servidores de entrarem em greve, mas foi a gota d´água. Os trabalhadores esperaram impacientemente durante 14 meses que o governo apresentasse uma proposta, e a proposta enfim apresentada parece ter sido feita por alguém que sequer leu as reivindicações dos trabalhadores. Alguém que não está minimamente preocupado com a saúde, a segurança e a qualidade de vida dos servidores. Alguém mais interessado em garantir a fidelidade irrestrita dos diretores de unidades com reajuste de 16% do que garantir a continuidade dos serviços oferecendo um reajuste decente aos servidores – e não apenas para os agentes. A proposta foi feita por alguém que menospreza os servidores e sua capacidade de se manifestar.

Agora, depois que o governo desprezou todos os avisos e desrespeitou todas as reivindicações, faz de tudo para ameaçar os trabalhadores e sua legítima mobilização grevista. Nisso, conta com o apoio fiel de setores da mídia que se empenham cotidianamente em soltar mentiras e meias verdades sobre a greve, e até se apressam em chamar toda a categoria de irresponsável.

Se esses setores da mídia cumprissem o bom papel do jornalismo a serviço da sociedade, estariam empenhados não em repercutir as mentiras e discursos antidemocráticos do governo contra a greve; mas sim em investigar o sistema prisional paulista e descobrir por si só quais as razões que levaram mais de 80% de uma categoria a cruzar os braços, mesmo colocando o próprio pescoço em risco com a paralisação (sim: os grevistas correm risco de serem punidos administrativamente e de contrariarem severamente os interesses de criminosos, organizados ou não – e nesse caso, em quem vocês acham que os criminosos irão revidar, no governador ou no funcionário do sistema, hein?).

Por outro lado, conseguimos apoio de entidades e setores que não esperávamos. A Pastoral Carcerária, por exemplo, defendeu a categoria e a greve em recente nota sobre o sistema. Isso é muito bom para todos, pois os trabalhadores há muito já entendem que o caos no sistema prisional agride, maltrata e mata não apenas os presos, mas os humanos servidores que lá atuam também. Se a Pastoral passa a entender também desta forma, ótimo: que venha para agregar na nossa luta por um sistema prisional decente no estado de São Paulo.

Agradecemos o apoio, todos os apoios que pudermos receber. Os senhores deputados estaduais, nosso Legislativo, também poderia agregar na nossa luta. O Ministério Público também será bem vindo nessa nossa caminhada pelo respeito aos direitos no sistema prisional paulista. Fica o convite. Agradecemos também aos veículos de comunicação sérios que têm agido com responsabilidade diante da nossa mobilização. Agradecemos ao ex-secretário Antonio Ferreira Pinto pelo excelente artigo que escreveu em defesa da nossa mobilização. E agradecemos especialmente a cada servidor que, mesmo diante de tantas ameaças e opressão, se organizaram e realizaram essa greve há tantos anos adiada.

O Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo reafirma sua convicção de legitimidade do movimento dos funcionários. A mobilização pode trazer transtornos, é claro. Mas os servidores do sistema prisional não são os responsáveis por isso. O único responsável pela falta de valorização dos trabalhadores, pela falta de condições de trabalho, pela recusa em negociar reivindicações dos servidores, pela opressão diária contra os trabalhadores, é o Governo do Estado de São Paulo na pessoa do governador Geraldo Alckmin. Esperamos que a sociedade entenda isso.

Parabéns, servidores do sistema prisional. Sabemos da dificuldade tremenda em organizar uma greve num ambiente opressor em que todos nós trabalhamos, e sabemos o quanto está sendo difícil reivindicar direitos básicos com setores políticos e de comunicação de massa sendo covardemente contrários à luta. Mas os servidores resistem. E isso é muito bom.

Contem com o SIFUSPESP. O sindicato só existe por vocês.

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