Por Marc Souza - agente penitenciário, escritor, roteirista e diretor do Sifuspesp
Um dos maiores absurdos que ouvi nos últimos anos é a de que a privatização do sistema prisional é a única solução para o sistema. Tal afirmação, não passa de falácia, uma forma de enganar a opinião pública, e ainda, desmerecer uma classe de trabalhadores que há anos, carrega o sistema nas costas.
Uma classe de trabalhadores que, mesmo com o descaso constante do Estado, que não investiu suficientemente em vagas, efetivo e qualificação funcional, criando uma superpopulação carcerária monstruosa, abandonada em depósitos de gente cercados por muralhas de concreto e sendo gerenciadas por uma quantidade mínima de profissionais.
Uma classe de trabalhadores que mesmo sendo ignorada pelo Estado, sendo escondida atrás das muralhas, tendo suas necessidades ignoradas, seus direitos negados, vítimas de ameaças, agressões, homicídios, quando não, vítimas de vários tipos de doenças físicas e psicológicas.
Uma classe de trabalhadores que viu a falta de investimento no setor chegar a níveis estarrecedores, trabalhando em condições precárias de segurança, colocando a vida em risco em prol do bem comum, mas que, mesmo diante das adversidades, sempre honrou a sociedade em que vive, e a profissão exercida.
Uma classe de trabalhadores que mesmo sem saber se voltaria para casa, exerceu, em todos esses anos, sua função de forma íntegra e honesta, sendo de suma importância para a segurança da sociedade.
Uma classe que viveu as maiores atrocidades, que presenciou a violência na forma nua e crua e que, muitas vezes, fora vítima desta.
Falar que a privatização do sistema prisional é a solução para todos os males que acometem esse setor é um desrespeito àqueles profissionais, que hoje, possuem as mais profundas cicatrizes.
Cicatrizes que transformaram suas vidas para sempre, cicatrizes adquiridas enquanto o Estado, em sua inércia, dormia em berço esplêndido, e, tais, passavam noites em claro, evitando fugas, motins, rebeliões, deixando o mundo um pouco mais seguro, mesmo com circunstâncias nunca favoráveis.
A privatização é mais um DESRESPEITO contra o trabalhador.