Por Marc Souza - agente penitenciário, escritor, roteirista e diretor do Sifuspesp
Hoje o assunto do momento é o Governador João Dória e sua PPP (Parceria Público Privada) junto aos presídios do Estado de São Paulo. Com a alegação de criar um serviço mais eficiente e mais competente o governador, especialista em marketing, vai disseminando essa ideia para a população a fim de fazer crer que tal, é a solução para o tão propalado caos penitenciário.
Se hoje em dia o ambiente prisional no Estado de São Paulo é um caos, isso deve-se a incapacidade do estado de gerenciar tal, estado este, capitaneado há mais de vinte anos pelo partido do próprio governador, que não fez investimentos em estrutura, não criou vagas suficiente para atender a demanda prisional, não investiu em funcionários, tampouco na valorização dos mesmos, investindo minimamente no setor abandonando-o à própria sorte.
Ou seja, se hoje os presídios estão superlotados e, há, carência de funcionários e qualidade de trabalho na maioria das unidades, tal situação chegou a este ponto por que o partido do senhor governador deixou que chegasse.
A verdade é que ao alegar que a Parceria Público Privada é ideal para o sistema prisional, inclusive alegando uma maior eficiência por parte desta, o governador dá um TAPA NA CARA dos servidores prisionais do Estado de São Paulo. Servidores estes, que, mesmo com a falta de investimento por parte do estado nas condições de trabalho, mesmo com a falta de reconhecimento profissional, principalmente na questão salarial, sempre enfrentou o déficit funcional e a superpopulação carcerária, ou seja, sempre enfrentou o descaso do governo para com o setor, de peito aberto, sendo vítimas de ameaças, agressões e homicídios por parte das facções criminosas.
Tal alegação é um tapa na cara dos servidores que hoje estão trabalhando de forma honesta, cumprindo fielmente seu papel junto a sociedade. Um tapa na cara dos trabalhadores que estão afastados por terem sido vítimas de ameaças e agressões no ambiente prisional, situações que, talvez, possam lhes trazer danos psicológicos irreversíveis.
Um TAPA NA CARA da família daqueles funcionários que se foram jovens, vítimas do crime organizado, pelos simples fatos de serem funcionários do sistema, prisional ou que pereceram sucumbindo aos horrores vistos e, não aguentando a pressão, tiraram suas próprias vidas. TAPA NA CARA das famílias dos funcionários que foram vítimas de acidente de trajeto, quando estes, estavam indo de encontro ao seu labor ou voltando, mas que cumpriram com o seu dever.
Ao afirmar que a solução do sistema prisional é a eficiência das parcerias públicos privadas o governador do estado de São Paulo dá um TAPA NA CARA dos profissionais desta secretaria, profissionais estes que, mesmo com a leniência do estado, morosidade, falta de investimento e comprometimento com a categoria, todos os finais de semana apreendem inúmeros ilícitos os quais os visitantes tentam adentrar nas unidades prisionais. Funcionários que apesar de serem confrontados diariamente com o crime organizado, evitam fugas, motins, rebeliões, colocando diariamente a vida em risco, em prol do bem público, não se importando com a sua vida, importando-se tão, e somente, com o seu trabalho, tendo consciência da sua importância, mesmo que o estado e a sociedade muitas vezes não lhe dêem a importância necessária.