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Olá, muito prazer! Sou Agente Penitenciário.

Sim! Sim! Sei! Sou este mesmo!

Sou o profissional que invadiu o ministério da justiça. O profissional que invadiu a Câmara e prejudicou a votação da dita Reforma da Previdência.

Agora você me conhece, né?

Não! Não! Eu não me orgulho do que eu fiz.

Sei que para você que sequer me conhece deve ser difícil acreditar no que estou dizendo. Mas, acredite, não me orgulho do que fiz.

Mas, infelizmente, tinha que ser feito.

Sei! Sei! Sei que você acha condenável o que eu fiz, mas acredite, não tínhamos outra saída.

Você não me conhece direito, é verdade. Por isso deve ser difícil acreditar no que estou dizendo.

Você não vê o meu trabalho. Você não presencia as minhas ações.

Mas vou falar uma coisa para você: - Sou um herói!

Eu não tenho um uniforme bonito, pomposo. Não salvo pessoas nas ruas como os policiais e bombeiros, tampouco prendo bandidos por aí. Mas, mesmo assim, sou um herói.

Meu local de trabalho quase sempre é fora das cidades, em locais ermos, distantes. Atrás de altas e fortes muralhas de concreto que você, talvez, já tenha visto.

Meu local de trabalho quase sempre é frio, escuro, triste. Um local à sombra da sociedade, que sequer sabe as agruras que passo. Que sequer me reconhece quando caminho na rua. Mas, eu estou ali.

Apesar de você sequer saber quem eu sou, eu tenho a segunda profissão mais perigosa do mundo. Minha expectativa de vida, segundo um estudo da Universidade de São Paulo, é de 45 anos. Hoje, tenho 40. Outro dia vi descer dos olhos do meu filho uma lágrima antes de me fazer a seguinte pergunta: Pai é verdade que o senhor só vai viver até os 45 anos? Você não tem ideia do que senti naquele momento. Afinal, posso nem chegar aos 45 anos.

Ah! Você nem imagina o que passo diariamente. Trabalho em condições totalmente insalubres. Sofro pressões psicológicas. Sofro ameaças de morte. Sou agredido. Sou assassinado. Você nem imagina quantos de nós já pereceram neste caminho vítimas de homicídios, pelo simples fato de ser Agente Penitenciário.

No local onde trabalho pessoas vivem amontoadas, revoltadas, estressadas, afinal, em um “quarto” onde deveriam viver 12 pessoas, sobrevivem 30, 40, delas doentes e aquelas que estão sãs a doença é questão de tempo. Em uma unidade prisional que deveria abrigar 710 pessoas, chega a abrigar 2.000 ou mais.

No local onde trabalho há um déficit funcional absurdo. Enquanto a ONU estima que o ideal no ambiente prisional é um agente penitenciário para cada 05 pessoas presas, no estado que trabalho a relação é de 01 agente para cada 10 presos. Agora se um agente penitenciário vive até os 45 anos trabalhando em um ambiente de 05 presos para 01 funcionário, hoje posso me considerar um sobrevivente?

Olá, muito prazer, sou agente penitenciário e um sobrevivente.

Sobrevivo diariamente ao crime organizado. Sobrevivo diariamente ao déficit funcional. Sobrevivo diariamente à superpopulação carcerária e as doenças advindas de todas estas situações desumanas a que sou obrigado a conviver. Sobrevivo diariamente com a leniência e a ignorância do Estado que insiste em ignorar estas situações. Sobrevivo diariamente aos péssimos salários que recebo, salário este que a mais de três anos, sequer, tenho a reposição da inflação.

Depois do que eu disse, você ainda não me conhece? Pois, vou me apresentar. Sou agente penitenciário.

Aquele profissional que enquanto você dorme no aconchego do seu lar, passa noites acordadas, no frio de uma penitenciária cuidando, velando para que criminosos mais perigosos do país não fujam e passem a tirar o seu sono.

Aquele profissional que, enquanto você esta na praia com seus amigos e família, está sendo ameaçado e agredido no interior dos presídios por que tenta, a todo custo, realizar o seu trabalho de forma eficaz, procurando dar a você a segurança que você merece. Mesmo nas condições precárias de trabalho que o estado lhe fornece.

Aquele profissional que por vezes passa horas e horas com uma faca no pescoço, tendo a vida nas mãos de pessoas cruéis, enquanto você tranquilamente assiste a um jogo de futebol e toma a sua cerveja gelada.

Por favor! Não pense que estou reclamando da minha profissão, ou te culpando por algo. Eu só estou me fazendo presente. Me apresentando a você, que talvez, ao me ver desesperado invadindo prédios públicos tenha uma má impressão sobre a minha pessoa.

Afinal, tenho orgulho da minha profissão.

Mas a minha profissão, apesar de ser uma das mais antigas que o mundo já viu, clama por reconhecimento.

Não podemos mais sermos abandonados como aqueles a quem cuidamos e que o governo e a sociedade insistem em ignorar.

Não podemos mais sermos abandonados à própria sorte.

Nosso trabalho é perigoso e insalubre. Nosso trabalho nos tira todas as forças tanto físicas como, e principalmente, psicológicas. Nosso trabalho tira as nossas vidas de forma, muitas vezes, vil e cruel.

Por isso, o que pedimos é pouco. O que pedimos não é nada.

Pois queremos reconhecimento como classe trabalhadora que somos. E a inclusão da nossa categoria na aposentadoria especial é uma das formas de nos reconhecer.

Para que aqueles que sobreviverem a esta profissão, possam viver seus últimos dias com a sua família em paz, como heróis que foram por uma vida toda.

Olá, você me conhece? Sou um agente penitenciário.

E não vivo para invadir prédios públicos, eu vivo, para fazer a sua vida melhor. E reconhecimento, é a única coisa que peço.

 

Marc Souza

Autor dos livros: Casos Acasos e Descasos; Fatos  Relatos e Boatos.

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