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Por Flaviana Serafim

Neste 9 de maio, mesmo com a distância que a pandemia exige, a maioria das mães celebra seu dia junto da família. Para muitas mães servidoras penitenciárias é domingo de trabalho na unidade, não raro a muitos quilômetros de distância dos filhos. 

Da mesma forma que as demais mães, as servidoras vivem o desafio diário de conciliar profissão, maternidade, estudos e tudo o mais que é exigido das mulheres, e não só: o de trabalhar num ambiente estruturalmente masculino, insalubre e agravado pela Covid-19. O SIFUSPESP foi ouvir como esse quadro impacta a mãe servidora e a importância de dar voz e vez às necessidades das trabalhadoras penitenciárias. 

Frente à necessidade de renda familiar, muitas mães e esposas saíram do interior para assumir unidades na região metropolitana de São Paulo, com a expectativa de voltarem para perto de casa, já que o interior paulista concentra a maioria das unidades prisionais, e a espera por transferências é uma angústia. 

No sistema prisional desde 2008, a policial penal Kátia Roberta Rodrigues Pinto é lotada atualmente na Penitenciária I de Mirandópolis. Mãe de meninos gêmeos, esposa de policial penal, a servidora graduada em Letras é mestranda em Linguística na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, onde desenvolve dissertação sobre os usos do verbo pagar na linguagem penitenciária. Trabalhou anteriormente no Centro de Detenção Provisória Feminina de Franco da Rocha e na Penitenciária Feminina de Tupi Paulista, ficou à espera pela transferência até 2018 e acompanha a dor de outras colegas. 

Fiquei três anos em Franco da Rocha aguardando minha tão esperada transferência. Era solteira e não tinha filhos ainda, mas acompanhei de perto a dor e angústia misturada com saudade que minhas colegas sentiam toda vez que retornavam de suas trocas e viagens. Para ficarem alguns dias em casa, é preciso fazer trocas e acumular plantões, desgastando emocionalmente e fisicamente as servidoras penitenciárias”. 

Katia observa que, mesmo quando as mulheres finalmente conseguem as transferências, nem sempre é o retorno efetivo “para casa”, mas apenas um “chegar um pouco mais perto”, que continua exigindo viagens e plantões cumulativos que não acabam.

“Muitas das nossas colegas policiais penais continuam longe das suas casas e, enquanto isso, os filhos crescem e perdemos parte do desenvolvimento da nossa prole. Para uma mãe, isso é dor. Uma dor que se faz presente por necessidade. Outro fator impactante é a distância do cônjuge. Vi muitos casamentos se desfazerem por não suportarem estar longe um do outro”. 

Caminhos por melhores condições

A policial penal Katia Roberta Rodrigues Pinto, da Penitenciária I de Mirandópolis
A policial penal Katia Roberta Rodrigues Pinto, da Penitenciária I de Mirandópolis. Foto: acervo pessoal

Para melhorar as condições de trabalho das servidoras penitenciárias, a policial penal afirma que é preciso uma política interna que considere as necessidades e dificuldades das trabalhadoras, além de mais visibilidade à categoria, mais voz e ações para permitir a ascensão profissional da classe feminina: 

“A resposta é desenvolver uma política interna que permitisse mais a mulher e reprimisse menos. Somos, de certa forma, obrigadas a seguir condutas de trabalho desenvolvidas pelos nossos colegas homens e sinto que, se agirmos diferente, estamos agindo errado. Muitas vezes, mulheres policiais penais que trabalham em unidades masculinas ainda são vistas como necessárias apenas para os finais de semana, ‘para revista’, e desempenham suas atividades nos bastidores da área da segurança”.

A policial penal avalia que a mulher contemporânea assumiu um papel acumulativo, com conquistas de certos direitos e espaços de um lado, mas do outro com tarefas que apenas se acumularam. “Continuamos sendo mães, esposas e donas de casa. Nossa jornada de trabalho não cessa! Continuamos responsáveis em cuidar do seio familiar e contribuímos financeiramente para manter as despesas. No âmbito penitenciário não é diferente. Somos servidoras, mães, esposas, donas de casa e carregamos toda a bagagem que esses papéis nos exigem”.

O sistema penitenciário é para a segurança pública e ressocialização do indivíduo e Katia reforça que as policiais penais cumprem esse papel na prática de suas atribuições da mesma forma que os colegas homens, mas sob uma pressão muito maior. 

“Percebo que somos muito mais cobradas. Temos que mostrar nossa capacidade a todo momento. É como se fôssemos testadas para mostrarmos o quanto somos fortes e o quanto somos capazes de suportar toda a pressão que recai sobre nós. Não é fácil trabalhar em um meio cuja maioria é de homens e, principalmente, em posições de liderança. Sinto que precisamos de mais visibilidade!”, critica. 

Muitos colegas homens desconhecem o trabalho das policiais penais porque as mulheres são minoria no sistema e  “acham que unidades femininas são ‘castelos de princesa’, não fazem ideia dos desafios que enfrentamos para manter a ordem e a disciplina”. 

Para enfrentar o ambiente masculinizado do sistema prisional, Kátia diz que não há nada que um homem faça que uma mulher não seja capaz de fazer também, e que elas têm seu diferencial:

“Somos mais fortes! Somos fortes porque conseguimos gerenciar as dificuldades no trabalho em concomitância aos papéis que desempenhamos fora do sistema. Trabalhar, cuidar de filhos, ser esposa, dona de casa e estudar requer muita sensibilidade e estabilidade emocional”, conclui. 

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