Em entrevista, prefeito de Adamantina disse que “isso não é problema do município” ao afirmar que maioria de casos sintomáticos de coronavírus que são tratados na cidade é de servidores e detentos. No transporte público e no comércio, trabalhadores também podem sofrer com repulsa por estarem atuando durante a crise e correndo risco de contaminação
por Giovanni Giocondo
O Sistema Único de Saúde (SUS) atende de forma universal a todos os brasileiros em unidades públicas ou conveniadas, nos municípios e nos Estados da federação, há mais de três décadas. Independentemente de onde vivem, os brasileiros podem ser tratados em hospitais e postos de saúde de qualquer cidade, sem terem de desembolsar um centavo para isso. Os tributos pagos por toda a população são revertidos para esse fim.
Mas na primeira crise mais grave que atinge a saúde do país - e do mundo - em mais de um século, a partir da pandemia do coronavírus, parece que alguns gestores, em parte desesperados pela falta de estrutura local, resolveram eleger os trabalhadores do sistema prisional e os detentos como os responsáveis por fazer o sistema de saúde colapsar.
Pelo menos é essa a opinião do prefeito de Adamantina, município de 35 mil habitantes que fica no interior de São Paulo, próximo a cidades pequenas que possuem unidades prisionais, entre elas Lucélia, Pracinha, Pacaembu e Flórida Paulista. Em entrevista ao jornal Impacto, Márcio Cardim (DEM) avisou que “quem colocou a população carcerária na região foi o governo, e ele [governo] tem que cuidar disso”.
O prefeito também afirmou, sem citar dados, que “pelo andar da carruagem, a maioria dos sintomáticos ou internados é de agentes, mulheres destes servidores ou presidiários”, e que isso “não é problema do município, que precisa atender a sua população”. “Nunca solicitamos penitenciárias, e hoje temos de cuidar de algumas da região”, declarou. Segundo a Secretaria de Saúde, o município já registrou 17 casos negativos, 3 casos que aguardam resultados dos exames e 16 casos confirmados da doença, sem óbitos.
Apesar de minimizar a declaração dizendo que “sabe que tem de atender a todos e pede apenas a sensibilidade do Estado”, Cardim foi preconceituoso com os servidores penitenciários ao afirmar que “o problema não é nosso”.
Nesse sentido, o SIFUSPESP questiona: Não há funcionários do sistema vivendo em Adamantina, trabalhando lá e morando na região? Não é possível solicitar apoio do governo do Estado com recursos financeiros e de infraestrutura sem ter de incorrer nessa manifestação contraditória e precipitada? Um criminoso detido em Adamantina será encaminhado para que unidade prisional? Tanto a saúde pública afetada pelo coronavírus como a segurança pública são problemas de todos.
Para além de declarações polêmicas de gestores, o SIFUSPESP conta com o apoio e o cuidado de toda a população para com os servidores penitenciários que estão sob risco, trabalhando para manter a segurança do sistema prisional. No transporte público ou ao fazer compras essenciais, esses funcionários podem ser discriminados ou até alvo de agressões por utilizarem seu uniforme de trabalho devidamente identificado.
Por esse motivo, o sindicato vem a público para lembrar que é papel de todos respeitar o esforço que os servidores têm feito para atuar e colocar suas vidas e a de seus familiares em perigo. Não destratar alguém que lida diariamente com a ameaça de contrair a doença, tal qual os profissionais de saúde, é dever de cada um. Ao menos sete servidores penitenciários já faleceram, vítimas da COVID-19, e outros 87 estão isolados ou em tratamento. A solidariedade com eles e suas famílias é a palavra neste momento de dificuldade, e é nela que o SIFUSPESP acredita para superar a pandemia.