Antonia de Angelis*
Depois de uma vida de trabalho e dedicação, eis que chega a aposentadoria. Essa nova situação de liberdade, sem as amarras do horário, do relógio de ponto, que deveria ser um momento feliz, pode ser também apavorante; Se por um lado você se livra daquela condução lotada, da distância da família, do empurra-empurra do metrô, das manhãs chuvosas, das estradas perigosas, problemas que começam de manhã e se repetem à tarde, dia a dia, anos após anos, não podemos comemorar essa nova vida, porque outras preocupações chegam juntas.
Para nós do sistema prisional, considerada uma das profissões mais estressantes, chegar à aposentadoria sem ter seu psíquico comprometido, já é uma vitória. Depois de muitos anos abrindo e fechando portão, e uma série de atribuições repetitivas, convivendo com um linguajar nada convencional, presídios superlotados, insatisfações, inseguranças, é necessário um esforço e uma vigilância constante, para não sofrer o processo de prisionização, que pode comprometer a vida social e familiar pelo resto de nossas vidas.
Até o ano de 2009, outra ameaça rondava nossa aposentadoria: Mesmo se tratando de aposentadoria por tempo integral, por um política cruel e castradora do governo, o servidor penitenciário sofria o desconto de valores que sempre complementaram o salário, como o ALE (Adicional de Local de Exercício) e a GAP (Gratificação de Atividade Penitenciária), o que significava uma boa parcela do salário, razão pela qual muitos servidores retardavam em pedir a aposentadoria, e nas unidades mais antigas, podíamos vislumbrar um quadro funcional de pessoas de idade mais avançada, que trabalhavam até que sua saúde agüentasse, ou até a aposentadoria compulsória aos 70 anos.
Graças à perseverança e à luta sindical, hoje temos a aposentadoria especial, incorporação das gratificações (ALE) à razão de 20% ao ano, e para nós que nos aposentamos antes da vigência da lei 1109/10, o ALE está voltando, na mesma proporção.
Afinal, se fez justiça, e devemos isso à luta, pois aposentados têm tantas ou mais necessidades que os da ativa, a saúde fica cada vez mais frágil, problemas talvez herdados da profissão, que infelizmente o governo não reconhece. Há quanto tempo que lutamos para implantar a Lei 12622/07 da Saúde Mental, do deputado Hamilton Pereira, e não houve vontade política até o presente momento.
Nós aposentados estamos prontos para engrossar as fileiras, e deixamos nosso recado aos governantes: Não podemos fazer greves, mas votamos e somos um número que cresce a cada dia!
* Antonia de Angelis é ASP aposentada, de Avaré, e membro do Conselho Fiscal do SIFUSPESP.
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