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Já perdi a conta de quantas vezes surpreendi as pessoas ao dizer qual a minha profissão.

            O que mesmo? – elas perguntam.

            Diante da minha afirmação, muitos não acreditam. Outros fazem perguntas. Muitas perguntas por sinal. Tem curiosidade. Querem saber como funciona. O que realmente acontece onde trabalho. E, na maioria das vezes, ficam surpresas com as minhas respostas.

            Sou Agente de Segurança Penitenciária a mais de dez anos, e, neste período todo de trabalho tive que conviver com isso. Da indiferença à surpresa em minutos.

            O Agente de Segurança Penitenciário, que já foi Guarda de Presídio, Carcereiro, dentre outras denominações é uma das profissões mais antigas do mundo. A segunda profissão mais perigosa do mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho. E uma das profissões mais injustiçadas.

            Ninguém conhece o Agente de Segurança Penitenciária como ele realmente é. A maioria das pessoas esperam que um agente seja uma pessoa agressiva, ignorante. Um sádico.

Culpa dos filmes e principalmente da imprensa em geral.

            Os filmes nunca mostraram como realmente se comporta um Agente de Segurança Penitenciária. Mostram os agentes como sendo pessoas sádicas, maldosas, corruptas. Na maioria das vezes compara-o ao individuo preso, quando não, o transforma em uma pessoa pior.

            A imprensa, não é diferente. Por acaso alguém já viu a imprensa falando bem dos Agentes Penitenciários? Ou assistiu a alguma matéria jornalística que mostra o que realmente acontece com esses funcionários, no interior das Penitenciárias?

Na maioria das vezes, a imprensa, acusa-os de colocarem objetos ilícitos no interior das cadeias, ou de agressores a “pobres” “inocentes” e “indefesos” presos. Mas, se esquecem que, todos os finais de semana, estes recebem visitas de seus familiares. Se esquecem da superpopulação carcerária. Das rebeliões que estes indivíduos fazem, as quais destroem toda uma Penitenciária (patrimônio público) e matam entre sí.

Rebeliões onde eles agridem os funcionários (agentes de segurança penitenciária) de forma físicas e psicológicas, transformando para sempre suas vidas.

O Agente de Segurança Penitenciária é o elo mais fraco na segurança pública. Vive um dia a dia difícil, onde, por vezes, na maioria das vezes, é obrigado a cuidar de 210, 220 presos em um pavilhão construído para 90, 100 presos. Presos de alta periculosidade. Presos revoltados pela superpopulação carcerária. Pela falta de consideração do estado, que, não cumpre a Lei de Execução Penal e faz com que estes, cumpram suas penas de forma sub humana, amontoados em trinta presos ou mais em celas construídas para abrigar 12.

Esses mesmos agentes trabalham dia a dia sob tensão. Ameaçados em seus locais de trabalho. Mesmo assim, fazem o máximo para exercer a sua atribuição da melhor maneira possível. Correndo o risco de serem feitos refém em rebeliões. Sendo ameaçados pelos presos, que, muitas vezes sequer respeitam suas famílias, ameaçando-as também.

Ninguém conhece esta parte da profissão. Aliás, ninguém conhece realmente esta profissão.

Lutamos diuturnamente contra o crime. Nossa luta se da, dentro e fora do trabalho, mas, mesmo assim, ninguém nos vê. Ninguém nos ouve. Por isso além das dificuldades da profissão, ainda temos, também que lutar contra o preconceito das pessoas. Que acham que também somos bandidos, ou, no mínimo somos coniventes com o que acontece dentro das cadeias. O que não é verdade.

Somos pais de família. Honestos. Trabalhadores.

Pessoas que procuram cumprir a Lei de Execução Penal, mesmo diante das dificuldades. Diante da falta de apoio do governo. Somos guerreiros. Guerreiros que, sem armas, lutam no dia a dia, buscando um futuro melhor. Pessoas que trabalham nos lugares onde a sociedade quer esquecer que existe. Mas que existe, não dá para ignorar.

Como, não dá para ignorar também, nós: Agentes de Segurança Penitenciária. Não podemos mais ser ignorados. Não podemos mais ser descartados.

Não somos aqueles que o cinema descreve, tampouco aqueles que a imprensa insiste em rotular como pessoas de caráter no mínimo duvidoso.

Somos heróis! Heróis que lutam no dia a dia com mais força que qualquer um. Heróis, que, mesmo a adversidade, que são muitas, não desistimos, e, continuamos a lutar.

Somos heróis! E a sociedade precisa saber disso. Acabar com o preconceito.

Nossa atividade é essencial à segurança pública.

É assim que temos que ser vistos. É assim que a sociedade terá que nos ver.

Não somos os vilões, somos os mocinhos.

Somos os heróis!

Os heróis!

Marcelo Souza

ASP e escritor

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