Quinze dias já se passaram desde a rebelião no CDP II de Guarulhos, acontecida em 21 de janeiro. Ontem (4) representantes do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo estiveram na unidade para conversar com os funcionários e com a direção geral, para desvendar quais os fatores que geraram ou facilitaram a rebelião, e como anda a situação dos funcionários desde então. Os sindicalistas encontraram uma série de erros no setor de segurança, que põem em risco a integridade física dos funcionários.

“Faltam funcionários e sobram presos, como em todas as unidades do sistema prisional paulista. Mas recebemos denúncias, e constatamos serem verdadeiras, de questões muito sérias em relação à segurança. A unidade não tem saída de emergência para os servidores, por exemplo. Também não tem HT suficiente, e os cadeados das celas são tão ruins que podem ser abertos sem chave, só usando a mão”, revela o Diretor de Saúde do SIFUSPESP, Luiz da Silva Filho (Danone), que esteve na unidade acompanhado do Coordenador da Regional São Paulo, Ailton Temoteo, e da Diretora de Base Angélica Lemos.

O antigo diretor geral do CDP II de Guarulhos saiu do cargo no início deste ano deixando a unidade com problemas graves. “O novo diretor geral assumiu dia 8 de janeiro e em duas semanas teve que enfrentar uma rebelião. Conversamos com ele, e acreditamos que tem uma outra postura em relação às questões levantadas, e condições de trabalhar para resolvê-las. Vamos acompanhar”, avalia Danone.

No dia da rebelião o que aconteceu foi que dois presos já condenados (portanto, que não deveriam estar numa unidade de CDP) tiveram uma tentativa de fuga frustrada pelos funcionários. Portando duas simulações de armas, os presos reagiram fazendo funcionários de refém e iniciando a rebelião, debelada poucas horas depois com a intervenção do GIR. Foram feitos de refém 11 ASPs, 1 enfermeiro, 1 auxiliar de enfermagem e 1 professor do Senai.

“Na unidade não tem HT suficiente para comunicação entre os agentes e, pra piorar, não há saída de emergência, uma rota de fuga para os servidores. Essas são ferramentas necessárias para garantir a segurança dos trabalhadores”, indigna-se o Diretor de Saúde.

No quadro efetivo de agentes, faltam 35 segundo a SAP. Mas este quadro não leva em conta os servidores afastados por motivos que vão desde a licença médica a desvio de função. A população carcerária está contabilizada em 2.412. “Tem um agente de segurança penitenciária tomando conta de quatro raios”, destaca Luiz Danone.

Desde a rebelião o recebimento de jumbo estava suspenso, e só foi normalizado ontem, quando se podia ver uma multidão se aglomerando para entrar na unidade. Apenas três funcionários – contando com o Diretor de Portaria – fazem a revista. O fluxo de visitantes no final de semana é o seguinte: cerca de 900 aos sábados e 1.200 aos domingos. E o número de funcionários para revistarem esses visitantes permanece em três. Como se não bastasse, o antigo diretor quando saiu levou 27 funcionários com ele. O novo diretor trouxe somente cinco funcionários – ou seja, só na troca de diretoria a unidade perdeu 22 funcionários.

“Não tem banheiro nem bebedouro para os servidores na área de segurança; eles precisam se deslocar para o centro administrativo da unidade. Outro problema grave é a péssima qualidade dos cadeados das celas, que podem ser abertos mesmo sem chave. A situação é muito grave, e vamos denunciá-la com urgência ao secretário da SAP”, explica o dirigente sindical. A falta de água na unidade também é constante.

A alimentação dos funcionários e dos presos é outra questão que precisa ser resolvida. As refeições vêm de outra unidade prisional e frequentemente chegam com muito atraso. “Os funcionários denunciaram que tem dias em que a refeição chega até as 14h30. Ontem, quando estávamos lá, até as 13h ainda não havia chegado. Por conta desses atrasos grandes já houve casos em que o alimento chegou estragado”, revela Luiz Danone.