Chego em minha residência depois de um dia de trabalho e plantão de 12 horas na carceragem e deparo-me nas navegações de praxe feitas pela internet com a seguinte matéria jornalística da G-1 São Paulo: Justiça apura se agentes torturaram e deixaram nus detentos em CDP de SP (Mais de 30 presos do CDP Vila Independência alegam ter sido agredidos. Alguns atacaram 2 funcionários; agentes dizem ter usado força moderada. Fui dormir ontem depois de ler e reler algumas vezes a referida matéria jornalística, que de forma totalmente ardilosa, deturpam a imagem do agente penitenciário, e não podendo ser omisso com tanta hipocrisia ora apresentada, nos atribuindo uma condição de torturadores, vejo nesta crueldade que somos tratados no texto, a pecha dada de pessoas despreparadas e revanchistas, comportamentos desprezíveis para funcionários públicos no exercício da profissão, e aqui ratifico o nosso direito de resposta e combater a imprensa marrom ou quaisquer linhas de raciocínio das excressências e excremências que procuram se escudar no poder judiciário, no ministério público ou na defensoria pública justamente para, de forma covarde, se isentar da responsabilidade de manchar a honra dos servidores penitenciários. Aos profissionais que assinam a reportagem do G-1 São Paulo, digo o seguinte: que desconhecem totalmente as atribuições dos servidores penitenciários. E digo mais!!! Perguntem à Sociedade se Ela também sabe o “por quê” dos servidores penitenciários morrerem assassinados??? Por quê são mortos de forma tão cruel??? Por que são executados sumariamente??? Por quê a maioria esmagadora dos servidores penitenciários não morrem naturalmente de velhice??? Aqui deixo as respostas para as perguntas acima. Porque escolheram servir os cidadãos e a Sociedade devotadamente num inferno em vida chamado presídio. Porque escolheram deixar suas Famílias em casa e ir trabalhar como aplicador da execução penal junto aos que foram condenados pela justiça, obviamente, pelos seus crimes contra a Sociedade. Porque defendem o cumprimento da lei, protegendo as Famílias, mantendo no cárcere até o final da sentença condenatória os que não souberam respeitar as regras da vida em Sociedade. Não só o Agente, mas os servidores penitenciários em geral são seres humanos, e entre os que são cruelmente agredidos ou assassinados nós temos: pais, mães, filhos, irmãos, primos, amigos, e alguns até conseguem virar avós. Toda a vez que o herói anônimo servidor penitenciário, que devotadamente serve à Sociedade é alvo da revolta dos criminosos, pagando com o afastamento do trabalho por causa de agressões ou com a própria vida, é você cidadão e contribuinte que sai perdendo neste contexto. Quando chega ao conhecimento da Sociedade, via imprensa, a triste notícia: servidor penitenciário é agredido ou morto, não importa se o “agente de segurança”, o “agente de escolta”, a “auxiliar de enfermagem”, a “assistente-social”, o “médico”, a “psicóloga”, o “motorista”, etc… sofreram facadas ou estileteadas nas costas, pescoço, braço e orelha, olho ou pulmão perfurado, mas o fato em si fica claro, que são tantas e tão deslavadas as mentiras apresentadas sobre nós, tão grosseiras as justificativas e tão grande a falta de escrúpulos, que só há de se cogitar a existência de um enorme fosso moral e ético no lugar da busca por uma verdade absoluta por parte dos responsáveis por estes textos. Pior situação é da honra do trabalhador no sistema prisional quem vem à óbito, pois é muito mais cômodo divulgar levianamente que a pessoa assassinada estava envolvida com o submundo do crime, já que defunto não volta para se defender em hipótese alguma. Tenho plena convicção que vários (as) Colegas de profissão se solidarizam comigo, perderam o sono na madrugada pelo mesmo motivo, que é a banalização de nossas mazelas e infortúnios. Não fizemos concurso público para relegarmos a segundo plano nenhuma integridade pessoal e coletiva, e entre elas a física e moral. Muito menos o direito à vida, que é o maior de todos!!! Para finalizar, numa análise de contexto pessoal, não vou me surpreender se atrás deste texto “maquiavélico” da G-1 São Paulo possa estar alguma manipulação dos que defendem para o sistema prisional uma gestão mista tipo PPP (parceria-público-privada).
Por Bel José Ricardo Mesiano
Agente Penitenciário
Diretor de Base do Sifuspesp
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/02/justica-apura-se-agentes-torturaram-e-deixaram-nus-detentos-em-cdp-de-sp.html