A abordagem do sistema prisional brasileiro realizada pela grande mídia tem apresentado o funcionário prisional como um dos problemas do sistema penitenciário
O setor de comunicação do Sindicato do Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo (SIFUSPESP), por meio de sua assessoria de imprensa, realiza rastreamento diário sobre todos os assuntos que saem na grande mídia e nos blogues a respeito do sistema penitenciário de todo Brasil. Como comunicadores que prezam pela função social que a profissão do jornalista carrega com responsabilidade, fazemos análises através de uma linha do tempo que torna-se possível ser traçada com essa observação diária que alimenta o trabalho da comunicação.
Algumas vezes confundem o trabalho comunicacional da assessoria de imprensa do sindicato como meros reprodutores. Entretanto tomamos um cuidado que pode ser considerado até excessivo de observação e análise de fontes e veracidade de notícias. Ou superficialidade e ausência de contextualização e análise conjuntural.
A partir dos últimos três meses do ano de 2017 observamos uma mudança na abordagem crítica quanto ao assunto que aqui iniciamos a falar e que é de interesse da categoria que nos acompanha: os problemas no sistema carcerário brasileiro. Sabe-se que os agente penitenciários deram uma virada no tratamento midiático a partir do momento histórico de tomada do Congresso Nacional contra a reforma trabalhista, em protesto contra perda de direitos e na luta pela aposentadoria especial.
Nas manifestações daquele ano em Brasília, outras categorias de trabalhadores ovacionaram a passagem dos funcionários do sistema prisional, demonstrando confiança devido a coragem por um enfrentamento enérgico contra o poder legislativo, que no momento avaliava um texto a ser votado às pressas. Texto este, aliás, que ainda este ano pode ser votado, muito embora, conforme declarou a Folha de São Paulo da última segunda-feira (05/02), o relator do Projeto de Emenda Constitucional, Carlos Marum, tenha sinalizado a possibilidade de engavetar a Reforma.
E o que isso tem relação com a observação do que chamamos “agenda midiática” ?- que nada mais é do que a linha mais comum sendo adotada para tratar de determinado assunto, incluindo a escolha de algum assunto, considerado naquele momento relevante à população.
Trazemos a resposta: A imprensa, que a princípio acompanhou a opinião pública em defesa da categoria dos funcionários prisionais, que aliás passaram a ser vistos pela população em decorrência desse fato como pessoas que sofrem com as mazelas do abandono do Estado em relação à segurança penitenciária, hoje aborda de uma maneira repetitiva erros de agentes penitenciários, sendo eles: envolvimento com detentos de dentro das prisões levando celulares, drogas e armas para os mesmos, corrupção, ineficiência laboral.
A agenda midiática não apresenta mais o agente penitenciário como aquele que segura o sistema para que a imagem dele não desmorone de vez, mas aos poucos o coloca como cúmplice em meio ao desespero de falta estrutural no sistema carcerário.
Noticiário brasileiro formando opinião
O Bom Dia Brasil desta última segunda-feira(05/02) apresentou uma matéria com foco na ausência de scanners corporais nas unidades prisionais brasileiras, apresentando esta tecnologia como solução da entrada de materiais ilícitos nos presídios. A matéria chega a afirmar que o scanner é capaz de detectar tudo que o visitante possa estar levando para dentro da prisão, o que não é verdade. É de grande ajuda, entretanto não é perfeito e muito menos é o pilar do início da possível melhora do sistema.
Veja pelo link <https://globoplay.globo.com/v/6475677/>
Tecnologias são implementadas como bloqueadores de celulares, inclusive tramita na Câmara dos Deputados projeto que impõe a obrigatoriedade de instalação de bloqueadores em todas as unidades. Mas, perguntamos: E o problema da superlotação, e a criação de super presídios que abrigarão um número de presos acima do recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e o déficit funcional, e a precariedade das cadeias como um todo, e a ausência de fiscalização e instrumentalização para realização da mesma? E O FUNCIONÁRIO QUE LIDA DIARIAMENTE COM AGRESSÕES, POSSIBILIDADE DE MOTINS, COM DIFÍCIL CARGA HORÁRIA DE TRABALHO, COM DESVIO DE FUNÇÕES PORQUE NÃO EXISTE QUEM FAÇA ALGO NUMA EMERGÊNCIA MÉDICA POR EXEMPLO - JÁ QUE NÃO EXISTEM CONTRATADOS SUFICIENTES? E O SALÁRIO?
Deixar claro que o funcionário sofre com toda a precariedade e excesso de trabalho é mais do que necessário. Simplesmente afirmar, como Alexandre Garcia o fez em sua crônica, que agentes também necessitam passar por revistas porque estão envolvidos com a entrada de celulares e drogas nas penitenciárias é ofensivo diante dessas questões aqui abordadas de maneira superficial inclusive, porque essa análise é extensa. O problema em si tem uma extensão gigantesca. E afeta os funcionários do sistema.
A sociedade pouco sabe exatamente como um funcionário prisional cumpre sua lida dentro de verdadeiros infernos, mantendo-se frios e sabendo de todos os riscos. Eles adoecem e muito. Fisicamente e psicologicamente. O número de suicídios cometido por agentes é absurdo. Um problema de saúde pública e que deveria ser alcançado pelos direitos humanos. Trabalhadores com expectativa de vida de 45 anos, exercendo a segunda profissão mais perigosa do mundo e recebendo salários baixos, adoecendo e morrendo jovens, NÃO DEVEM SER responsabilizados pela entrada de objetos ilícitos na prisão, ainda que existam casos isolados.
O problema é que se tais casos são pinçados e repetidos pela imprensa. considerando como canal de formação de opinião, sabemos que a visão da população em relação ao agente penitenciário e demais funcionários será a de homens e mulheres corruptos, que abusam em revistas vexatórias, que negligenciam a entrada de armas e entorpecentes nos presídios, torturadores. Os funcionários do sistema prisional precisam ser ajudados. E uma opinião pública favorável na defesa de seus direitos também pressionaria os governos a cederem em favor do trabalhador. Devemos seguir atentos e combater este tipo de generalização e a ignorância a respeito do Sistema Penitenciário.