Marc Souza

Agente penitenciário, escritor e Diretor do Sifuspesp
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Por Marc Souza

Existem pouquíssimos artigos científicos sobre agentes prisionais. Quando passamos a investigar artigos sobre os agentes prisionais femininos a escassez torna-se ainda maior, quase uma raridade, mesmo tendo esses profissionais uma atuação fundamental no sistema prisional.

Segundo Leila Karenina Ferreira Farias e Kellyn Gaiki Menegat, no artigo O agente penitenciário feminino no sistema prisional catarinense, a ausência de estudos sobre agentes prisionais femininos se dá pelo fato de que os estudos, em sua maioria, retratam o cárcere a partir de prisões e pontos de vista masculinos, visto que, como destaca Elaine Pimentel no artigo O lado oculto das prisões femininas, as prisões femininas são excepcionais, pois o número de mulheres presas está muito aquém dos homens.

Para se ter uma ideia, no estado de São Paulo, enquanto as unidades prisionais femininas mal chegam a duas dezenas (22), as unidades prisionais masculinas passam de 150 (159) considerando as unidades prisionais mistas.

Diante disso, a condição estrutural do sistema prisional é toda voltada para o público masculino, não levando em consideração as necessidades femininas, situação observada, inclusive, nos cursos de formação dos profissionais.

E isso reflete nos estudos sobre o sistema prisional que, em sua grande maioria, quase nada se fala sobre as mulheres que trabalham no sistema. Na tese de doutorado de Adriana Rezende Faria intitulada Abrindo e fechando celas: narrativas, experiências e identidades de agentes de segurança penitenciária femininas, a autora destaca que diante disso é possível perceber que a construção do conhecimento acadêmico reproduz as hierarquias da sociedade em que o homem branco e de classe média apresenta-se como portador de um discurso incorpóreo.

Assim, a masculinização do sistema prisional torna a figura feminina praticamente invisível. Sem corpo, sem voz, sem conhecimento. Em um ambiente androcentrista como o sistema prisional é de suma importância que aja estudos que deem voz aos profissionais do sexo feminino. Afinal, as mulheres do sistema prisional têm muito a dizer sobre o sistema a partir de suas experiências profissionais.

Porém na maioria das vezes são ignoradas devido às hierarquias sociais enraizadas em um sistema que prioriza as experiências masculinas em detrimento das experiências do sexo oposto.

Diante disso, é muito importante ressaltar que estudos realizados a partir da visão feminina do ambiente prisional tornam-se muito importantes para que se possa entender melhor este sistema, a partir de um ponto de vista minoritário, subordinado devido à desigualdade de gêneros enraizados no sistema, e, por anos, ignorado pelo Estado, mas que é essencial para o sistema prisional.

E a partir daí, avaliar os impactos da presença feminina nas penitenciárias do país, a fim de encontrar meios de promover e valorizar a figura feminina favorecendo suas capacidades e potencialidades, buscando não só uma adequação, mas a criação de um sistema prisional mais justo e menos androcentrista, diminuindo as diferenças implantadas e criando melhores condições de trabalho.

Marc Souza é policial penal, escritor e diretor do SIFUSPESP