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César Cabral, 41 anos de idade e 9 no sistema penitenciário prisional como agente de segurança penitenciária, ASP. Carateca desde os 7 anos. Medalhista no último mundial e líder da seleção brasileira. Possui várias conquistas nacionais e internacionais no esporte e um forte espírito de liderança, além de um profundo orgulho de sua profissão como agente prisional, o que ele faz questão de destacar como algo que vem em primeiro lugar, em sua vida. O SIFUSPESP realizou  entrevista com o ASP que falou de suas conquistas e de seu ideal de ver mudado o olhar que a categoria tem sobre si mesma.

 

SIFUSPESP: Fale de sua experiência no mundial de karatê da Itália, talvez uma das suas mais importantes conquistas do ano.

César Cabral: No mundial de dezembro, assim que chegamos na Itália treinamos pesado. Cerca de 5 horas por dia, duas horas e meia manhã e duas horas e meia a tarde. No segundo dia fui escolhido para ser capitão da equipe de luta e selecionado para lutar nas três categorias de luta do evento. Competi nas categorias Kumite, que é a luta individual, Kogo kumite e Kumite em Equipes, que é o sonho de todos países. Nas três categorias fui para as finais. Em equipe ficamos em segundo lugar e no Kogo Kumitê em terceiro. Kumite individual, fiquei em quinto. Mas pra mim comandar a equipe foi o mais importante.

 

SIFUSPESP: E por qual razão ser capitão da equipe foi tão significativo?

César Cabral: Me disseram que como capitão da seleção eu levei os lutadores quase no topo. Que fui responsável por toda a vibração da equipe, os garotos vibraram muito.

Não chegamos lá, porém mostrei a eles que lá era nosso lugar. Nenhum momento deixei eles desacreditarem uns dos outros. Nenhum momento permite cobrança injusta pelos erros na tentativa de se fazer certo. Fui duro em todo momento não permitindo a preguiça, a falta de companheirismo, não aceitando a individualidade, a vaidade e a desunião. Estive com todos a todo momento, conversando individualmente com cada um e em conjunto. Eram garotos de 21 a 30 anos e estavam na guerra comigo.

 

SIFUSPESP: Você começou no karatê aos 7 anos. O que este esporte influencia na sua vida e na sua profissão?

César Cabral: Karatê é minha vida. No lado profissional me influencia principalmente na confiança e no espírito de justiça que essa arte trás. Não somos perfeitos mas tentar  fazer o certo todos os dias é o caminho da perfeição. Então muitos erros cometo pelo excesso e não pela omissão ou falta.

 

SIFUSPESP: Você acabou tornando-se um ícone, um símbolo de orgulho para jovens e para a categoria dos ASPs. Qual seu sentimento em relação a isso?

Cesar Cabral: Ícone? Eu? Mas, o que eu fiz?

 

SIFUSPESP: Porque os agentes penitenciários são profissionais que sofrem de invisibilidade social. Vocês trabalham para dentro dos muros e, a partir dali, o problema que estava lá fora já não está. As pessoas não querem mais saber. Não por maldade, isso é do ser humano, querer o problema distante. E a profissão, tão importante para a segurança pública, acaba sendo vista apenas nos momentos de crise. Para um agente, ter um companheiro de farda visto e bem visto e bem quisto, funciona como espelho. Significa “eu também posso ter orgulho do que eu faço”. Por isso você é um ícone.

Cesar Cabral :Sabe por que somos invisíveis?

 

SIFUSPESP: Por que?

César Cabral: Porque criaram uma cultura de se esconder. Quando uma pessoa pergunta qual sua profissão muitos dizem funcionário público, outros escondem e não assumem o que realmente são ou fazem. O policial militar é um funcionário público, mas não é chamado de funcionário e sim de policial militar, PM ou polícia. Isso é criar uma personalidade. O agente não, ele aceita que o próprio preso o chame de senhor funcionário.Isso nos joga no fundo do cárcere e só nos sobra um aprisionamento que mata a nossa classe.

Aqui na seleção todos sabem quem sou, AGENTE. E em todo mundo, digo: Sou AGENTE PENITENCIÁRIO. Nosso trabalho será visto apenas quando quisermos. Por exemplo, em uma entrevista que dei para uma emissora de televisão eu pedi para dizer AGENTE PENITENCIÁRIO de Rio Preto antes do meu nome. Assim, eu Cabral fiquei anônimo e o AGENTE PENITENCIÁRIO passou a ser o ícone da matéria.

 

SIFUSPESP: Você acha possível mudar essa cultura?

Cabral Neves: Temos que contagiar uns aos outros com orgulho da farda. Temos que acabar com espírito de “ir na cadeia para fazer a cota”. Temos que ir pra fazer a diferença. Afinal, é a sociedade que precisa de nós. Acho possível mudar SIM.

 

SIFUSPESP: Você tem um incrível espírito de liderança. Você contagia seus colegas com toda essa certeza nas palavras? Você é extremamente preciso no que diz, sabe quem é. Tem certeza da sua identidade.

César Cabral: Gosto de liderar não nego. Contagio não só com palavras, mas sim também com atitudes. Sim, sou sim e se estiver errado tenho certeza que o erro é pelo sonho do certo e justo.Fizeram  uma pergunta aqui na seleção para todos: O que você está sentindo? Eu respondi: Estou me sentindo campeão. Sabe por quê disse? Não é por arrogância, mas sim pela certeza do que se queria para a competição. Ser vencedor. Para isso eu trabalho duro. E vencer era minha meta.

 

SIFUSPESP: Diga-me, como  sua forte personalidade foi moldada? O que influencia ou influenciou sua formação?

César Cabral: A minha mãe me direcionou. Então, minha família, a fé e o esporte.

 

SIFUSPESP: Aproveite a oportunidade para dizer aos seus companheiros de farda algo que os contagie a ter este mesmo orgulho que você carrega.

César Cabral: Não existe triunfo sem perda, não há vitória sem sofrimento, e as nossas conquistas ecoará pela eternidade. A pior derrota para mim é o fim da esperança, pois nosso talento não falará quem somos, mas sim das nossas escolhas. Cada escolha que fazemos é uma chance para mudar tudo para sempre. Ser anônimo não definirá quem  somos por dentro, mas  sim o que fazemos lá dentro que nos definirá. Pra mim a vitória pertence àquele que acredita nela, e àquele que acredita nela por mais tempo. Quero meus irmãos AGENTES sempre OMBRO A OMBRO. Isso não é difícil Eu acredito em nossa classe.

 

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